terça-feira, 10 de abril de 2012

“Quando ainda estava escuro... (João 20, 1-9)”


          Esta é a nossa vida. O domingo da ressurreição se assemelha a nós em nossos momentos de maiores mazelas e até mesmo nos grandes picos de nossa existência. A vida anda escura demais e nós não enxergamos nada além de nós mesmos e nossas lamurias. Cada um com a sua, cada um com uma maior, cada um com uma mais grave.

            Esta passagem do evangelho é magnífica. Ainda escuro significa que o dia vem vindo, que vem surpresa por ai, que não permaneceremos na escuridão, quem vem vindo um sol bonito para iluminar a todos sem distinção. Mas, nós usamos permanecer na escuridão. Mesmo que venha luz, ainda está escuro. E, quando chega o sol, ninguém o ver. Ninguém o percebe nem o recebe, alegres por seu retorno solidário e real. A escuridão é notória e querida. Porque nós sempre queremos permanecer ali, na lama da vida? Porque nós não queremos sair e ver que vem vindo uma nova oportunidade, uma nova luta, que não finalizamos na poeira, mas que temos uma nova etapa pela frente? Por que razão nossos destroços tem mais significado que nossa própria capacidade de levantar o rosto e ver que o “ainda”, existe?

            A nossa natureza quer sempre permanecer como a daquelas mulheres que, mesmo sendo louvável a ação, vão ao túmulo no justo dia da promessa da ressurreição. Esqueceram! Esqueceram-se do que o Rabi havia dito e programado, predito e anunciado. E o mais intrigante, mesmo vendo, não acreditaram. O “Tiraram o Senhor do túmulo” de Madalena é a típica expressão nossa de desconfiança. Estamos nos tonando pessoas frenéticas que não confiamos nem mesmo mais em nos mesmos. Não é redundância, é realidade. Expressão de desespero e demonstração de olhos vendados, não viu que o Sol chegou, não percebeu que aconteceu o predito.

            João é o célebre da história. Penso que ele toma até, com respeito á expressão, o lugar do Sol. É ele que passa a iluminar. É ele que se torna o Sol, é a primeira testemunha. “Ele Viu e Creu (João 20, 9).” Não é Madalena a testemunha primeira, mas ele, ele que acreditou. Ele foi o primeiro crente e não nos é estranho sendo ele o mais íntimo do Senhor, aquele que O conhecia, que sabia dos seus anseios mais profundos, de seus projetos, de seus medos, suas angustias, seus desesperos. Era ele o mais amado. Foi ele o primeiro a entender, mesmo não tendo recebido o Sol.

            Imaginemos, pois como seria se todos os seguidores do Cristo estivessem ali, bem pertinho do túmulo na hora da ressurreição... Ali naquele momento, “ainda” no escuro. Se estivessem todos á espera da explosão prometida, se eles tivessem acreditado e não se tivessem tornado todos meros covardes, a escuridão não seria tão destruidora, não faria tanto medo, não seriam tão desconfiados. Se nós, nos juntássemos todos para ver o sol nascer. Se nos acalentássemos na madrugada fria e destruidora dos nossos mais fortes torrões cotidianos e esperássemos um novo Sol, nós não precisaríamos sair desesperados para conferir nada, seriamos todos testemunhas credíveis de um novo Sol, de uma nova visão.

            Nossos corações estão mais vazios do que o túmulo. Mesmo sendo grande a diferença. Como desejaria que o meu coração fosse semelhante aquele buraco que recebeu e viu o Rabi ressuscitar e ficou sedento e cheio de saudades do Sol que não mais está ali. Para quem acredita, contempla a luz em cada amanhecer, mesmo se as nuvens forem abundantes. Deixemos-nos guiar pela luz que é Deus, pelo sol que é Deus “e não deixou seu Filho conhecer a corrupção (Salmo 15, 10”), permaneçamos “alegres por causa da esperança (Rm 12, 11-12)” e esperemos ansiosos a chegada do Sol, a chegada do Cristo.

Acreditemos, Ele acabou com a escuridão. Foi morte para a morte. “Caminhemos sob a Luz do nosso Deus (Is 2,5)”.



S Ednaldo Oliveira, SDB.

Recife/PE, 10 de abril de 2012.