sábado, 24 de dezembro de 2011

"Não espere eu ir embora pra perceber..."*

Ah! Se tu soubesses o que te espera, o que te grita angustiadamente, desesperadamente por ti. Não consigo pensar em mais nada, construir mais nada que você não esteja neste meio.
Qual é o nosso destino nessa história toda? Onde nós então chegaremos? Enlouquecido estou. Constantemente afastando de mim, sempre saindo, sempre procurando, sempre indo. Dentro deste contexto eu não mais me dirijo somente a mim, mas tem outro ser neste espaço; que rouba, que assalta, que aperta e quer continuar. E quando eu penso que me afasto, eu me achego; quando eu penso ser roubado, estou ganhando. É você que se aproxima e quer ficar.
Separei-me de todos, resisti a tudo para ficar com você; perceba-me. Dilate-me. Resgate-me. Como te esperei ontem, porque não apareceste? Fiquei em um silêncio profundo, mas tive medo de confrontar-me. A solidão riu de mim. Fez graça, fez pirraça. Consegui escapar com seu perfume deixado naquela rouba que roubei de ti. Fomentar e sustentar tornou-se regra.
Quero passar a mão em seus cabelos, sentir que eles deslizam sobre meus dedos trêmulos. Neste movimento você sobe em meus pés; espantados, perplexos, receosos. Um não quer invadir o outro e assim o momento vai ficando gostoso, vergonhoso e ingênuo. Os relógios não mais existem neste instante, perdem o valor.
Não espere que eu me vá pra sentir, ousar, querer, entender...     

N Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 14 de julho de 2011.

*Frase de Pitty


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

As tardes de setembro

As tardes de setembro são desastrosas e torturantes.
Elas esfregam em nós as coisas que deveríamos ter resolvido.
Elas esmagam em nós os atos que deveriam ter acontecido.      
Elas estragam tudo.             
Porque não nos deixam mais fazer pelo tempo que já não temos.

As tardes de setembro são escandalosas e frustrantes.
Elas nos esperam perto de uma janela qualquer.
Elas apertam as coisas e exigem uma saída da razão.
Elas não são justas.
Porque elas não nos esperam nos impulsionam mais a nada.

As tardes de setembro são longas e pesadas.
Elas quebram qualquer possibilidade de liberdade e reencontro.
Elas me livram de mim mesmo quando mais preciso estar lá.
Elas são amargas.
Porque nos situam em um horizonte inexistente.

As tardes de setembro são confrontadoras e mentirosas.
Elas nos alimentam na incredulidade das coisas.
Elas me colocam na expectativa de uma certeza frustrante.
Elas são astutas.
Porque não se mostram totalmente, mas gradativamente devagar e sempre.

As tardes de setembro são irrepetíveis e únicas.
Elas arrastam saudosismo e arrancam lágrimas.
Elas temem as transparências e preferem as conquistas.
Elas são um tempo de osmose.
Porque nos mudam, nos rasgam, nos assolam, nos esmagam.

As tardes de setembro são frustradas e humanas.
Elas não nos deixam fugir do que já deveríamos ter desvendado.
Elas não nos deixam fugir quando as motivações não aparecem.
Elas são claras.
Porque refletem a finalidade das motivações mais superficiais.

As tardes de setembro são preparos e decisões.
Elas não nos solidificam para as tardes seguintes de outubro.
Elas fazem o contrário, optam pela desconstrução das ilusões.
Elas são como vento.
Porque fazem bem o papel  da provação do que deveria ser rocha.

As tardes de setembro são raízes e lembranças.
Elas aram o sentido blindado que trouxemos até aqui.
Elas enterram-nos e sufocam-nos no buraco mais profundo existente.
Elas estufam canivetes.
Porque esperam de nós alarmes extremos funcionando e gritando ações.

As tardes de setembro são silenciosas e esperançosas.
Elas vão se estendendo sobre todo o feito e querendo respostas.
Elas esperam ansiosamente o retorno de nossa essência ao todo.
Elas não retornam.
Porque os dias vão e não voltam nunca mais.

N Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 30 de Setembro de 2011.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Quando o escuro chega até nós

                Quando chega a noite e tudo então é silenciado pela obrigação do calar-se, viajo ás mais belas paisagens organizadas por sobre minhas ações. Abre-se em mim verdades inexplicáveis que se voltam por sobre tudo aquilo que fiz e sou.
                Bem ali onde ninguém te escuta, onde ninguém te ver e a escuridão da noite te ofusca, é ali que se tenta, e até se acha outros focos que tratas de esconderes de tudo. Que as paredes não nos escutem quando então estivermos no ponto mais alto, em nossos horrores mais ferrenhos. Quando o espelho for então a nossa face e ousarmos acreditar na atualidade dos nossos ruídos, das nossas agonias.
                Quando me vem o que mais temo, quando me alcançou o que mais me cerca e me espia; é neste emaranhado complicado que me encontro quando todos se retiram e respiram.  Pela janela da minha cela eu vejo a lua. Ela está lá, grande como sempre, e alcança tudo e todos, crentes e ausentes. Vem ao meu encontro as grandes lâmpadas de horizonte que se aproximam, interrogam-me sobre tudo, querem conduzir-me aos seus espaçosos e astutos lugares. Que eu consiga escapar destes seringueiros que parecem amantes do saber.
                Quando o escuro chega até nós e nada mais parece ter sentido, nem mesmo o final de tudo, o sopro formador nos levantará. Esteja onde estivermos...


N Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, o9 de novembro de 2011.

Daqui dá pra ver o Trem

Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que é sonho de tantos que desejam mudar e transformar;
Ele que é esperança para quem necessita chegar e ficar;
Ele que é movimento seguro para quem tem medo de andar;
Ele que é petulância barulhenta para quem não tem paz.
                                                                     
Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que passa com fumaça e sem graça querendo chegar e entregar;
Ele que passa mostrando a desgraça aos possuidores da praça;
Ele que passa e derruba o comparsa que O tenta parar;
Ele que passa e anuncia e disfarça aquilo que abraça.

Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que volta e então se revolta com a vida acabada e esmagada;
Ele que volta e sem perder a rota procura outros trilhos;
Ele que volta e sem olhar o estrago, que continuar;
Ele que volta e com tanto barulho não é percebido.

Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que encontra se alegra e reconta o parado, quebrado, atrasado;
Ele que encontra e prepara um barulho, quer então festejar;
Ele que encontra e não quer prestar contar, quer somente estar;
Ele que encontra vagarosamente descansa e não pode parar.

Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que espera, e não importa o tempo, está pronto a chamar;
Ele que espera e sabe o valor do que está a ganhar;
Ele que espera, está disposto ao desuso e ao enferrujar;
Ele que espera, encontra, volta, passa, É...


N Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 14 de novembro de 2011.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

“Não fala nada, deixa o clima rolar. Nossos corpos clamam por encontros, não foge não, deixa os sentidos estremecerem...”.



           Não desapareças assim! A solidão vem visitar-me em teu lugar e acaba zombando de mim. Faz festa, faz morada, enraíza e presenteia a angustiosa, deixa-me desesperado pelo desejo expresso de permanência.
            Frio escândalo neste lugar quieto. O vento sopra e acaba cantando rodopiadamente gerando um circulo vicioso levando tudo consigo, luxúrias são levadas nesta triste saída. Onde estão os meus? Olhando o vento eu via tudo passando pelo redemoinho absoluto, lembrei-me de nós dois, nosso tão pouco tempo juntos; em contrapartida, nossa alegria em estar junto, nossa tão pouca oportunidade de estar e o nosso afeto com tonalidade de ambiente confiante, nosso principio de timidez, junto ao nosso anseio de aproximação.
            Não consigo viver assim! É como se eu me servisse de anestésicos e passasse um período sem o clamor da ausência, depois tudo acaba voltando ao clima inicial, da solidão. Eu sinto teu cheiro, eu sinto teu suor delicado, teus cabelos molhados e lisos arrastado pelo rosto conquistado pelo sorriso. Vejo teu sorriso dirigido a mim e ai tudo se ajeita. Não faz assim, volta pra mim, vem...
Um recadinho pequenino dito ao pé do ouvido, bem baixinho em meio aos sentimentos desejados e não entendidos; não fala nada, deixa o clima rolar, deixa a festa se fazer. Nossos corpos clamam por encontros, não foge não, deixa os sentidos estremecessem.


N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 05 de agosto de 2011.
           
           




Se eu não O encontrar, a minha vida não terá nenhum sentido...


         Encontro-me exatamente a quatro meses de minha consagração religiosa e os preparativos para esse grande ato já iniciaram com toda força. Ao mesmo tempo em que me encontro neste grande momento de agitação, exterior e interior. A hospedagem, a ornamentação, a liturgia, a celebração e a festa em geral; tudo vai me tirando do contexto natural e normal da rotina diária. O meu espírito não tem ficado no lugar em todo este contexto.
         Perturbo-me com aquilo que estou buscando. Deus não está me pedindo nada, sou eu que estou dizendo que quero me consagrar todo. Eu poderia muito bem, e Ele me aceitaria como fosse como eu decidisse entregar alguma coisa somente, entregar aquilo que eu poderia e conseguiria entregar; mas sou teimoso e quero tudo entregar.
         Eu tenho medo de não ser fiel e ser infeliz, tornar-me infeliz. Eu tenho medo de ser usufruidor e não servidor. Eu tenho medo de querer ser tratado como um semideus. Eu tenho medo de ser reverência, excelência, eminência; cobrando do povo, honras, distinções e condições melhores com todas as mordomias possíveis.
         Estejas comigo meu Deus, sabes quão facilmente posso te abandonar e seguir outro qualquer. Preciso do teu amor e da tua graça. Venha caminhando comigo...

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 06 de setembro de 2011.



Na praça, com os pombos, sentado no banco...

Porque não usamos ir ao encontro se está bem perto de nós?
Porque não queremos chegar junto?
Porque não rompemos as barreiras estabelecidas por quem não sabemos?
Porque não aceitamos as controvérsias?
Porque não esperamos o pousar do sol embaixo de uma arvore?
Porque não sentamos para esperar o novo sol?

Porque não rimos das nossas mazelas enquanto comemos?
Porque não nos colocamos frente ao outro e destruímos todas as incógnitas?
Porque não arrancamos as máscaras?
Porque não demonstramos apego ao outro que Deus nos deu para amar?
Porque não atacamos o espelho pela vergonha do comportamento?
Porque não queremos o prêmio pela guerra por nós instalada?

Porque não recolhemos nossas tralhas de insegurança e medo?
Porque não deixamos emergir os dotes e talentos dos outros?
Porque não nos colocamos na esfera dos poucos e últimos?
Porque não nos encontramos e colocamos tudo um ao outro?
Porque não queremos sair do arcaico, ultrapassado e mofado?
Porque não fixamos o olhar no Mestre e seguimos-lhe os passos?

Porque não amadurecemos sem pressa ou empurrões?
Porque não aprofundamos as nossas ações e unificamos as coisas?
Porque não perdemos o medo do outro?
Porque não nos inserimos em nossas celas para retornarmos mais serenos?
Porque não nos deixamos ser levados e banhados, purificados?
Porque não confirmamos a nossa invalidez na solidão?

Porque não tiramos, desamarramos as sandálias?
Porque não nos desarmamos para entrar no lugar santo que é o outro?
Porque não nos esvaziamos totalmente e contemplamos o Belo que é Deus?
Porque não silenciamos e nos aquietamos para ver o Deus que passa?
Porque não nos abandonamos como a folha seca jogada ao vento?
Porque não somos a folha, jogados em Deus?

Porque não somos bons profissionais na profundidade das coisas?
Porque não conseguimos o equilíbrio quando a hora chega?
Porque não queremos deixar a ilusão da perfeição?
Porque não nos permitimos sentar ao lado de uma criança na praça?
Porque não temos firmeza no que queremos e escolhemos?
Porque não perdemos o medo de ter medo?

Porque não sentimos vergonha do nosso analfabetismo afetivo?
Porque não conhecemos o corpo, as partes que carregamos á décadas?
Porque não nos envergonhamos da nossa incapacidade emocional?
Porque não reconhecemos que o que nos falta é o Amor profundo?
Porque não substituímos a vida por vida e amor por amor?
Porque não nos expressamos o que sentimos e nos decepcionamos?

Porque temos medo das perguntas quando temos a verdade que é Deus?
Não podemos ter medo dos questionamentos, nosso papel não é respondê-los e sim, contemplá-los, repeti-los, fazê-los.
E o mais importante nisto tudo, PORQUE NÃO EU?

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 11 de outubro de 2011.







Eu não vou estar por perto

Vê se fica bem, meu bem.
Acalma o coração, aquece a razão. Espelha a alma junto,
bem juntinho para que o perigo não nos tome o tempo,
não nos roube a espera de um retorno, não nos furte a perspectiva
da entrega ao momento que é nosso, é eterno, é único.

Vê se fica bem, meu bem.
Prenda-se ao farol norteador e assim não se perderá no caminho
que é de todos. Cultiva a seta para o além do aqui, para o além do agora,
e lá, onde não sabemos onde, mas sabemos da existência e da essência.
Insistimos em não ousar a experiência.

Vê se fica bem, meu bem.
Na inquietude das coisas vai encontrando teu lugar, teu cantinho;
na controvérsia do momento, põe-se na contramão do ser, na luta dos nervos,
vai ao ponto alto; na solidão desesperadora,
me encontra lá onde ninguém mais nos impedirá.

Vê se fica bem, meu bem.
Deves estar na confusão interrompida, longamente assistida pela partida;
não nos assustemos em contradizer tudo e perder a segurança das coisas
estabelecidas e falidas. Estaremos sempre presentes,
na sala inquieta dos filósofos e nos santuário dos místicos.

Vê se fica bem, meu bem.
Comprometamo-nos com o outro, daí partirá a nossa liberdade,
entreguemo-nos uns aos outros, daí surgirá nossa totalidade,
rejamos então a grande dança da vida e formemos um coro onde nada mais haverá
senão uma grande orquestra em dueto.

 Vê se fica bem, meu bem.
Se for apenas um sonho, vivamos então por um sonho, se tudo parecer tolice e utopia,
ousemos permanecer na contramão de tudo e de todos,
e se nem nós mesmos acreditarmos mais em nós, sejamos pois,
 do tamanho dos nossos sonhos. Saibamos para onde estamos indo.

Vê se fica bem, meu bem.
Quando tudo começar a dar errado e ninguém mais ficar ao nosso lado;
quando a perfeição nos for negada pela escolha que fizemos;
quando todas as portas forem lacradas e fechadas e a solidão e o frio chegarem,
vençamos pois a nós mesmos.

Vê se fica bem, meu bem.
E eu vou saindo de cena e esperando o seu convite chegar, e bater a portinha de minha alma, ansioso estou para que alcance este último espaço do meu ser,
e compartilharemos nossos passos e espaços,
caminhemos sob a luz dos nossos condenantes.

Vê se fica bem, meu bem.
Enquanto tudo isso vai caminhando para uma transformação dentro de uma confusão,
que nos ofusca o olhar e quase nos tira de cena por não esperar no que nos impõem,
que consigamos fazer a maior viajem existente e já feita,
da mente ao coração, para o nosso interior.

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 13 de outubro de 2011.

                                                      



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Em uma madrugada fria de inverno

Em uma madrugada fria de inverno,
A alma foi levada ao vale esperado durante toda a vida.
Lá onde nada mais há se não a grande dúvida sobre tudo.

Em uma madrugada fria de inverno,
Quando ninguém mais estará ao teu lado e sentires o nada chegar.
A alma não terá mais onde encontrar desculpas ou recrutas.

Em uma madrugada fria de inverno,
ela conduzirá nossa alma pelos grandes pórticos e nos embelezará
com uma grande dança acompanhada pelas grandes páginas de nossa vida.

Em uma madrugada fria de inverno,
deparar-nos-emos com a grande estrutura do tudo e nos perguntaremos
não mais onde estamos, mas onde estávamos antes Dalí.

Em uma madrugada fria de inverno,
quando então entendermos tudo nos desesperaremos pela frustrante
notícia de que não mais nos encontraremos nem retornaremos.

Em uma madrugada fria de inverno,
escutaremos os gritos de lamúria e lamentação por nossa pressa
em ir embora ou a indiferença brusca dos nossos.

Em uma madrugada fria de inverno,
os nossos projetos serão todos cancelados, nossos quereres esquecidos
e nossos nomes riscados da grande página da vida.

Em uma madrugada fria de inverno,
não sentiremos nada mais que um vento frio e cinzento que
bruscamente nos conduzirá sem nem mesmo nossos nomes perguntar.

Em uma madrugada fria de inverno,
este mesmo frio espalhará tudo nosso ao vento que tratará
de não nos deixar com nada pela impossibilidade de carregá-los.

Em uma madrugada fria de inverno,
o grande girador parará bem em nossa frente e não mais seremos
ouvidos ou entendidos, apenas longamente conduzidos.

Em uma madrugada fria de inverno,
um grande silêncio perturbador nos ferirá sem erro e ninguém mais
nos escutará e por mais que gritemos nem mesmo nós nos ouviremos.

Em uma madrugada fria de inverno,
as nossas palavras ferirão nossos lábios antes  mesmo de serem
pronunciadas pelo preço por terem sido caladas ou espalhadas.

Em uma madrugada fria de inverno,
nós nos apresentaremos diante de nós mesmos e choraremos
nossas possibilidades ignoradas pela incredulidade do ser.

Em uma madrugada fria de inverno,
nossos olhos haverão de enxergar o lamentável, o impossível
o espetáculo contraditório da essência que chegou somente agora.

Em uma madrugada fria de inverno,
quando o grande trem ousar parar na estação suja e mal arrumada,
 nós não querermos largar o nosso confortável lugar na máquina.

Em uma madrugada fria de inverno,
largaremos tudo o que temos ou pensamos ter, choraremos nossas culpas
e a esperança frustrada de um retorno inesperável e impossível.

Em uma madrugada fria de inverno,
a despedida será inevitável, então ouviremos os gritos que deveriam
ser risos e até logo naquele momento descrente e real.

Em uma madrugada fria de inverno,
eu quero estar na presença dos meus, ali bem quietinho e quentinho
e cercado pelos que me viram terminar tudo o que vim para fazer.

Em uma madrugada fria de inverno,
eu quero já estar esperando com minhas bagagens na porta e
não haverá inseguranças, mas ansiedade em retornar logo para casa.

Em uma madrugada fria de inverno,
esperarei ver tudo aquilo em que acreditei e fundamentei minha vida,
encontrar-me-ei lá onde a razão da minha existência sempre me esperou.

Em uma madrugada fria de inverno,
quero ter apenas um desejo a passear pelo meu corpo já congelado pelo frio gritante:
que a morte não me encontre um dia, solitário, sem ter feito o que eu queria.

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 26 de outubro de 2011.
"Em tributo ao eterno Ir. Lopes..."

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Eu queria te dizer o que queria agora


Eu queria te encontrar agora.
Queria te ver, te ter, te acalentar e acariciar, esperar.
Queria conversar, retratar e relatar, repensar e segredar.
As palavras vão travando, quase sem sair.
Elas avisam-me constantemente de seu cansaço, seu desvalor.

Eu queria ser contigo agora.
Queria te falar, te explicar, te jogar tudo, te pedir tudo.
Queria que não se esquecesse de mim, que não sumisse que não fugisse.
As reações que tu revelas são as piores.
Elas relatam exatamente que tu não me queres por perto.

Eu queria ser fingido agora.
Queria ser amigo, ser neutro, ser independente e não esperar.
Queria que não esperasse nada além do posso dar, além do que posso ser.
As coisas estão bem ordenadas e eu não tenho valor sobre elas.
Elas esmagam o meu querer e frustram o que eu quero ser.

Eu queria estar tranqüilo agora.
Queria não ser ansioso, não estar desesperado, e ter certeza de algo.
Queria ter consistências nas minhas satisfações, ser transparente.
As inconsistências negam as minhas necessidades.
Elas não me deixam ter coerência nas minhas opções.

Eu queria te dizer o que queria agora.
Queria ser transparente e não mudar nada no que quero no que falo.
Queria constituir minhas motivações e ser transparente contigo.
As minhas intenções não são amadas e precisam ser direcionadas.
Elas devem clarificar os meus sentimentos e transformá-los em Amor.

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 12-22 de setembro de 2011.


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Retalhos de pensamentos jogados e amassados

A busca da minha essência me traz tantas conseqüências. Eu sei às vezes para onde vou, eu sei as vezes que quero isto ou aquilo, sei quem quero ao meu lado ou as léguas de mim. Este caminho é muito doloroso, complexo, longo, desafiador. A gente só se percebe neste conflito, neste contexto, depois que está dentro dele, entre ele.
É tão complicado. Eu ás vezes me pego dentro de tantas bobagens, entre tantos outros bobos. E a vida vai assim passando e os dias dependurando-se entre esses desvios. Tantas me pego traindo a mim mesmo entre tantas coisas que me perco. Não sei se fico não sei se vou, não sei se volto ou continuo. E quando então voltarei para mim? Esta fuga constante de minha essência, esse jeito desenfreado de dar uma resposta correspondente a cada indagação.
Quando eu me pego sozinho essas coisas retornam como uma enxurrada de ideias que me crucificam, me apertam e clamam por respostas vindas do último espaço do meu ser para o último espaço do meu ser. Ah! Que complexo meu Deus. Porque você não me olha na cara e me coloca logo no meu lugar? Leva-me logo ao meu posto. Eu quero logo encontrar a minha essência; mostra-me logo a minha finalidade, o que eu preciso, para que vim até aqui. Eu tenho medo de me afastar muito e não saber mais voltar. Por onde eu começo a voltar ao retorno? Tudo é tão relativo. As coisas são tão sem valor. O que é nosso valor? O que vale mesmo a pena?
Quero voltar. Quero chegar naquele primitivo principio. Estar na aventura não é tão venturoso. A busca constante é dolorosa, chega a sangrar. Onde então me levará este caminho? Não quero a incredulidade dos que creram por não poderem caminhar no conflito questionador e permanecem na ditadura do dogma. Eu quero voltar ao meu lugar, quero me libertar dessas amarras. Quero encontrar a minha essência.

N.Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 18 de julho de 2011.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Que eu não tenha medo de dizer quem sou



Que eu não tenha medo de mim mesmo.
Que eu não exite em conhecer e descobrir o que há lá dentro.
Que eu não espere outros para ingressar neste caminho, que eu seja humilde o bastante para aceitar o lá encontrar.

Que eu não tenha medo de dizer quem sou.
Que eu não exija nada de ninguém.
Que ninguém exija nada de mim, além do que posso dar, além do que sou.
Que eu não seja o que os outros querem.

Que eu não resmungue o que perdi pelo que os outros ganharam.
Que não tenha medo de seguir, de ir, de usar.
Que eu não tenha medo de dizer o que penso e contradizer o mundo.
Que eu não tenha medo do escuro da vida.

Que eu não espere companhia, que eu não resmungue atenção quando minha opção me leva a solidão.
Que eu me configure somente ao meu Mestre e não tome espelho sobre tirania ou ideologia humilhante que me segue.

Que eu não me perca no caminho.
Que eu tenha força e não esqueça para onde estou indo.
Que eu retorne ao meu lugar primitivo, onde está a minha essência, no último espaço do meu ser.


“Que a morte não me encontre um dia, solitário, sem ter feito o que eu queria...”

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 25 de agosto de 2011.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

“O medo segue os nossos sonhos...” *


Ah! Meu grande amigo cada vez mais, cada dia mais, fica mais difícil de te seguir. A cada caminho eu vou me contradizendo, eu vou me perdendo, eu vou esquecendo, e quando vejo já estou longe demais. Como posso esquecer o medo? Como posso não me preocupar?  Era tudo tão fácil, era tudo mais simples, e eu vou continuando sem mais saber para onde estou indo, para que estou indo, com quem estou indo. Eu me recordo de quando comecei. Nossa! Como as coisas mudaram... Eu pareço ter parado em meio a tudo isso, meus desejos são outros agora, meu pensamento é outro. Onde tu ficaste? Onde me deixaste? Onde dissesse que não percebi? Porque não me levaste contigo? Onde te expulsei? Onde me afastei? Onde eu fiquei?
Eu estou tão envergonhado agora. Encontro-me tão menos, sou tão mais, quero tão mais, destruo tão mais. Onde estou eu meu amigo? Onde eu fiquei? Por onde tenho andado? De quais privadas tenho provado? Eu não consigo não provar... Tenho andado por tantos outros vales, tenho estado com tantos outros. Eu não consigo não sair, não me afastar. Entrego-me sem querer parar, sem querer interromper. E tudo vai assim fazendo parte de mim.
Porque continuas a me chamar? Porque ainda continua com essa historia se sabes quem sou? Sabes o que faço, o que apronto, como sou falso, como invento, como invejo; por que continuas a convocar a mim? Olha para os outros, investes nos outros, aposta neles. Não agüento mais ser desacreditado pelos meus, que sabem que não posso que não consigo, que não mereço, não sou fiel.
Lembro dos nossos dias, das nossas alegrias, dos meus planos. Era tudo muito motivador, tão ingênuo. Agora? Bem, eu não sei exatamente o que farei. O mundo andou e eu fiquei, foi pra te encontrar que me gastei.

N. Ednaldo Oliveira, sdb.
Barbacena/MG, 15 de julho de 2011.
*Charlie Brown Jr.


“Como secos galhos revestidos de amarelo...”


                Pingos de água chegam a minha alma neste momento. Pingos indecisos, pingos intransigentes, pingos engasgados, pingos empurrados, pingos processados e possessivos, pingos carentes, pingos inteligentes, pingos que não tocam mais ninguém. Pingos transparentes.
                Eu não posso. Os pingos formam orquestra constante, ritmos elétricos, e os meus valores vão dançando em meio a tudo que se desliza nos sons em foco. Ele vai esperando, quase sem querer, mas empurrando em meio a tudo. Por mais difícil que seja ou pareça. Caem constantemente e retornam ao encanamento, transferem tudo ao todo, camuflam comprimentos e esperam transformação.
                Os pingos sou eu e não consigo parar de cair, parar de pingar, parar de retornar á encanação. Eu vou pingando, vou parando, eu vou chorando e não decidindo deixar de ser gota. Eu não me permito outra coisa, as derrotas não são minhas, os troféus também não. É quando eu não posso permitir que eu permito, é quando eu não posso querer que eu quero, e quando não quero perder, me tiram, me roubam.
                Criar a minha imagem da gota, do pingo, sem posse, como secos galhos revestidos de amarelo, quando ninguém mais creditava. E os pingos continuam caindo...

N. Ednaldo Oliveira, sdb.
Barbacena/MG, 09 de agosto de 2011.


Caminhemos, rumo ao horizonte...

“Não perdamos os passos, caminhemos rumo ao horizonte. Sempre em condições...”

Como pode, eu sendo o mesmo, mudar tanto assim? Faço reboques, dou voltas, faço redemoinhos e acabo me perdendo e não sabendo se retorno ou se paraliso aonde chego. Não sei o que procuro, não sei por que procuro,; a única certeza é que, nesses momentos,  não encontro nada.
O meu descontrole, o meu achismo, o meu ato de perceber, a minha capacidade de me achar superior e suprimir os outros, minha anciã por um domínio, e, ao mesmo tempo, meu sentimento extremo de comunhão e pluralidade. Em contrapartida, vejo-me pensando e fazendo tantas outras coisas, menos o que é purificável nos meus momentos mais sentidos e lógicos.
Fugimos tanto dos nossos desejos, das nossas metas, das nossas exigências. Porque nos afastamos tanto? Nos meus melhores momentos eu vejo um horizonte tão próximo, tão possível, a coisa torna-se tão cabível. Há! Se eu conseguisse não mudar de direção e seguisse no caminho que a sã mente me pede. Tenho uma certeza, não me perderia. Minha pergunta é sem resposta. É difícil caminhar sem a olheira usada pelos animais para fixar-se somente na direção que os outros estabelecem; o caminho é mais duro e pedregoso, porém, é caminho seguro.
Quererei eu então continuar esperando e me desconcertando constantemente? Isso gasta saída. Continuar se perguntando para onde se vai, perde-se os passos que deveriam estar sendo dados e enraizados no percurso desejado e seguro, rumo ao horizonte, próximo ou não. Sempre em condições.

N. Ednaldo Oliveira, sdb.
Barbacena/MG, 17 de agosto de 2011.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

E eu me via chorando sem lágrimas, gritando sem som nenhum, correndo, suando e procurando...

             Eu queria ter escrito ontem, mas as palavras não vieram, não cederam, não apareceram. Passei a noite inteira sentindo o que não sabia sentir, ouvindo o que não sabia ouvir; fui assim travando luta com as letras que estacionaram em minha mente e lá fizeram morada, meus dedos tremeram e eu não consegui escrever.
              As reações lançam constantemente questionamentos nos fundamentos de minha vida. O meio em que estamos inseridos, as coisas que nos impõem, as condições que nos estabelecem para isto ou aquilo, a capacidade que nós temos de nos afastarmos da nossa essência, a nossa ânsia por momentos e sensações egocêntrica que tão longamente sabemos.
              Clamo por sensações, por loucuras intermináveis, por transes e relances que me ponham na esterilidades das demais coisas. E eu me via chorando sem lágrimas, gritando sem som nenhum, correndo suando e procurando o encontrável ao jeito que queria. Ao mesmo tempo que pensava nisso, e pagava o preço por tais pensamentos, a mente, bem lá no último espaço do meu ser, me dizia: " quero alguém para mim, alguém que me ame, que me seja fiel, que esteja sempre ao meu lado, sempre por perto."
             Em contrapartida, vindo do mesmo espaço, do mesmo sentido, me vinha uma tapa bem dada que mostrava: " quem disse que não já tens essa pessoa? E essa será a única que jamais te largará, que contigo sempre permanecerá." Meu pensamento voltava-se somente para Deus. Nada mais, nem ninguém mais se encaixava neste contexto.
            Como é difícil entender isso! Como é difícil encaixar-se neste contexto...


n. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 08 de Agosto de 2011.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Pela incerteza de um feliz fútil

       Quero a expectativa interminável que congela o acontecido e extermina meu ego passageiro. Pare tudo aqui ao nosso redor pela incerteza de um feliz fútil que não se constrói no agora; afinal, que a hora de começar o tudo apareça neste estopim de ideias sem limites ou kit´s.
        Esperar e esquecer o que há de ser, o que há de haver. Quem é este homem que me quer tornar divino? Loucura interminável entregar-me em suas mãos, assim totalmente, assim dependente. tomas parte da minha vida sem pedir, tomas posse da minha história, e eu, o que farei então? Mesmo quando não quero tu me elevas; mostra-me então o que posso ou sou com esse elo.
      Tu não me pedes nada! A vida vem se construindo, e eu nada sou. A vida é tirada, me arrancada, entra em cena uma história divina que eterniza e não me pergunta o que quero, não se preocupa o que espero. Que resposta darei? Onde parei?
       E eu digo que vou, digo que estou. Mesmo que eu não queira, mesmo que eu não seja, não esteja. Eu entro no mistério de uma predestinação que me conjuga, me coloco no mistério. Eu então sou mistério junto com o elo, e então me confundo.
       É nesta história toda que eu quero ser. Ser do eterno, ser eterno e do eterno existir. Como aquela virgem que em nada foi ela mesma, que em nada se fez o seu querer, mas em tudo foi feliz. Tira-me do perigo do ser eterno transformar-se em ego. Retira-me do tempo, apague-me e deixe-me servir, ser e existir no anonimato. 


N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Jaboatão dos Guararapes/PE, 06 de dezembro de 2010.