quarta-feira, 9 de novembro de 2011

“Não fala nada, deixa o clima rolar. Nossos corpos clamam por encontros, não foge não, deixa os sentidos estremecerem...”.



           Não desapareças assim! A solidão vem visitar-me em teu lugar e acaba zombando de mim. Faz festa, faz morada, enraíza e presenteia a angustiosa, deixa-me desesperado pelo desejo expresso de permanência.
            Frio escândalo neste lugar quieto. O vento sopra e acaba cantando rodopiadamente gerando um circulo vicioso levando tudo consigo, luxúrias são levadas nesta triste saída. Onde estão os meus? Olhando o vento eu via tudo passando pelo redemoinho absoluto, lembrei-me de nós dois, nosso tão pouco tempo juntos; em contrapartida, nossa alegria em estar junto, nossa tão pouca oportunidade de estar e o nosso afeto com tonalidade de ambiente confiante, nosso principio de timidez, junto ao nosso anseio de aproximação.
            Não consigo viver assim! É como se eu me servisse de anestésicos e passasse um período sem o clamor da ausência, depois tudo acaba voltando ao clima inicial, da solidão. Eu sinto teu cheiro, eu sinto teu suor delicado, teus cabelos molhados e lisos arrastado pelo rosto conquistado pelo sorriso. Vejo teu sorriso dirigido a mim e ai tudo se ajeita. Não faz assim, volta pra mim, vem...
Um recadinho pequenino dito ao pé do ouvido, bem baixinho em meio aos sentimentos desejados e não entendidos; não fala nada, deixa o clima rolar, deixa a festa se fazer. Nossos corpos clamam por encontros, não foge não, deixa os sentidos estremecessem.


N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 05 de agosto de 2011.
           
           




Se eu não O encontrar, a minha vida não terá nenhum sentido...


         Encontro-me exatamente a quatro meses de minha consagração religiosa e os preparativos para esse grande ato já iniciaram com toda força. Ao mesmo tempo em que me encontro neste grande momento de agitação, exterior e interior. A hospedagem, a ornamentação, a liturgia, a celebração e a festa em geral; tudo vai me tirando do contexto natural e normal da rotina diária. O meu espírito não tem ficado no lugar em todo este contexto.
         Perturbo-me com aquilo que estou buscando. Deus não está me pedindo nada, sou eu que estou dizendo que quero me consagrar todo. Eu poderia muito bem, e Ele me aceitaria como fosse como eu decidisse entregar alguma coisa somente, entregar aquilo que eu poderia e conseguiria entregar; mas sou teimoso e quero tudo entregar.
         Eu tenho medo de não ser fiel e ser infeliz, tornar-me infeliz. Eu tenho medo de ser usufruidor e não servidor. Eu tenho medo de querer ser tratado como um semideus. Eu tenho medo de ser reverência, excelência, eminência; cobrando do povo, honras, distinções e condições melhores com todas as mordomias possíveis.
         Estejas comigo meu Deus, sabes quão facilmente posso te abandonar e seguir outro qualquer. Preciso do teu amor e da tua graça. Venha caminhando comigo...

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 06 de setembro de 2011.



Na praça, com os pombos, sentado no banco...

Porque não usamos ir ao encontro se está bem perto de nós?
Porque não queremos chegar junto?
Porque não rompemos as barreiras estabelecidas por quem não sabemos?
Porque não aceitamos as controvérsias?
Porque não esperamos o pousar do sol embaixo de uma arvore?
Porque não sentamos para esperar o novo sol?

Porque não rimos das nossas mazelas enquanto comemos?
Porque não nos colocamos frente ao outro e destruímos todas as incógnitas?
Porque não arrancamos as máscaras?
Porque não demonstramos apego ao outro que Deus nos deu para amar?
Porque não atacamos o espelho pela vergonha do comportamento?
Porque não queremos o prêmio pela guerra por nós instalada?

Porque não recolhemos nossas tralhas de insegurança e medo?
Porque não deixamos emergir os dotes e talentos dos outros?
Porque não nos colocamos na esfera dos poucos e últimos?
Porque não nos encontramos e colocamos tudo um ao outro?
Porque não queremos sair do arcaico, ultrapassado e mofado?
Porque não fixamos o olhar no Mestre e seguimos-lhe os passos?

Porque não amadurecemos sem pressa ou empurrões?
Porque não aprofundamos as nossas ações e unificamos as coisas?
Porque não perdemos o medo do outro?
Porque não nos inserimos em nossas celas para retornarmos mais serenos?
Porque não nos deixamos ser levados e banhados, purificados?
Porque não confirmamos a nossa invalidez na solidão?

Porque não tiramos, desamarramos as sandálias?
Porque não nos desarmamos para entrar no lugar santo que é o outro?
Porque não nos esvaziamos totalmente e contemplamos o Belo que é Deus?
Porque não silenciamos e nos aquietamos para ver o Deus que passa?
Porque não nos abandonamos como a folha seca jogada ao vento?
Porque não somos a folha, jogados em Deus?

Porque não somos bons profissionais na profundidade das coisas?
Porque não conseguimos o equilíbrio quando a hora chega?
Porque não queremos deixar a ilusão da perfeição?
Porque não nos permitimos sentar ao lado de uma criança na praça?
Porque não temos firmeza no que queremos e escolhemos?
Porque não perdemos o medo de ter medo?

Porque não sentimos vergonha do nosso analfabetismo afetivo?
Porque não conhecemos o corpo, as partes que carregamos á décadas?
Porque não nos envergonhamos da nossa incapacidade emocional?
Porque não reconhecemos que o que nos falta é o Amor profundo?
Porque não substituímos a vida por vida e amor por amor?
Porque não nos expressamos o que sentimos e nos decepcionamos?

Porque temos medo das perguntas quando temos a verdade que é Deus?
Não podemos ter medo dos questionamentos, nosso papel não é respondê-los e sim, contemplá-los, repeti-los, fazê-los.
E o mais importante nisto tudo, PORQUE NÃO EU?

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 11 de outubro de 2011.







Eu não vou estar por perto

Vê se fica bem, meu bem.
Acalma o coração, aquece a razão. Espelha a alma junto,
bem juntinho para que o perigo não nos tome o tempo,
não nos roube a espera de um retorno, não nos furte a perspectiva
da entrega ao momento que é nosso, é eterno, é único.

Vê se fica bem, meu bem.
Prenda-se ao farol norteador e assim não se perderá no caminho
que é de todos. Cultiva a seta para o além do aqui, para o além do agora,
e lá, onde não sabemos onde, mas sabemos da existência e da essência.
Insistimos em não ousar a experiência.

Vê se fica bem, meu bem.
Na inquietude das coisas vai encontrando teu lugar, teu cantinho;
na controvérsia do momento, põe-se na contramão do ser, na luta dos nervos,
vai ao ponto alto; na solidão desesperadora,
me encontra lá onde ninguém mais nos impedirá.

Vê se fica bem, meu bem.
Deves estar na confusão interrompida, longamente assistida pela partida;
não nos assustemos em contradizer tudo e perder a segurança das coisas
estabelecidas e falidas. Estaremos sempre presentes,
na sala inquieta dos filósofos e nos santuário dos místicos.

Vê se fica bem, meu bem.
Comprometamo-nos com o outro, daí partirá a nossa liberdade,
entreguemo-nos uns aos outros, daí surgirá nossa totalidade,
rejamos então a grande dança da vida e formemos um coro onde nada mais haverá
senão uma grande orquestra em dueto.

 Vê se fica bem, meu bem.
Se for apenas um sonho, vivamos então por um sonho, se tudo parecer tolice e utopia,
ousemos permanecer na contramão de tudo e de todos,
e se nem nós mesmos acreditarmos mais em nós, sejamos pois,
 do tamanho dos nossos sonhos. Saibamos para onde estamos indo.

Vê se fica bem, meu bem.
Quando tudo começar a dar errado e ninguém mais ficar ao nosso lado;
quando a perfeição nos for negada pela escolha que fizemos;
quando todas as portas forem lacradas e fechadas e a solidão e o frio chegarem,
vençamos pois a nós mesmos.

Vê se fica bem, meu bem.
E eu vou saindo de cena e esperando o seu convite chegar, e bater a portinha de minha alma, ansioso estou para que alcance este último espaço do meu ser,
e compartilharemos nossos passos e espaços,
caminhemos sob a luz dos nossos condenantes.

Vê se fica bem, meu bem.
Enquanto tudo isso vai caminhando para uma transformação dentro de uma confusão,
que nos ofusca o olhar e quase nos tira de cena por não esperar no que nos impõem,
que consigamos fazer a maior viajem existente e já feita,
da mente ao coração, para o nosso interior.

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 13 de outubro de 2011.

                                                      



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Em uma madrugada fria de inverno

Em uma madrugada fria de inverno,
A alma foi levada ao vale esperado durante toda a vida.
Lá onde nada mais há se não a grande dúvida sobre tudo.

Em uma madrugada fria de inverno,
Quando ninguém mais estará ao teu lado e sentires o nada chegar.
A alma não terá mais onde encontrar desculpas ou recrutas.

Em uma madrugada fria de inverno,
ela conduzirá nossa alma pelos grandes pórticos e nos embelezará
com uma grande dança acompanhada pelas grandes páginas de nossa vida.

Em uma madrugada fria de inverno,
deparar-nos-emos com a grande estrutura do tudo e nos perguntaremos
não mais onde estamos, mas onde estávamos antes Dalí.

Em uma madrugada fria de inverno,
quando então entendermos tudo nos desesperaremos pela frustrante
notícia de que não mais nos encontraremos nem retornaremos.

Em uma madrugada fria de inverno,
escutaremos os gritos de lamúria e lamentação por nossa pressa
em ir embora ou a indiferença brusca dos nossos.

Em uma madrugada fria de inverno,
os nossos projetos serão todos cancelados, nossos quereres esquecidos
e nossos nomes riscados da grande página da vida.

Em uma madrugada fria de inverno,
não sentiremos nada mais que um vento frio e cinzento que
bruscamente nos conduzirá sem nem mesmo nossos nomes perguntar.

Em uma madrugada fria de inverno,
este mesmo frio espalhará tudo nosso ao vento que tratará
de não nos deixar com nada pela impossibilidade de carregá-los.

Em uma madrugada fria de inverno,
o grande girador parará bem em nossa frente e não mais seremos
ouvidos ou entendidos, apenas longamente conduzidos.

Em uma madrugada fria de inverno,
um grande silêncio perturbador nos ferirá sem erro e ninguém mais
nos escutará e por mais que gritemos nem mesmo nós nos ouviremos.

Em uma madrugada fria de inverno,
as nossas palavras ferirão nossos lábios antes  mesmo de serem
pronunciadas pelo preço por terem sido caladas ou espalhadas.

Em uma madrugada fria de inverno,
nós nos apresentaremos diante de nós mesmos e choraremos
nossas possibilidades ignoradas pela incredulidade do ser.

Em uma madrugada fria de inverno,
nossos olhos haverão de enxergar o lamentável, o impossível
o espetáculo contraditório da essência que chegou somente agora.

Em uma madrugada fria de inverno,
quando o grande trem ousar parar na estação suja e mal arrumada,
 nós não querermos largar o nosso confortável lugar na máquina.

Em uma madrugada fria de inverno,
largaremos tudo o que temos ou pensamos ter, choraremos nossas culpas
e a esperança frustrada de um retorno inesperável e impossível.

Em uma madrugada fria de inverno,
a despedida será inevitável, então ouviremos os gritos que deveriam
ser risos e até logo naquele momento descrente e real.

Em uma madrugada fria de inverno,
eu quero estar na presença dos meus, ali bem quietinho e quentinho
e cercado pelos que me viram terminar tudo o que vim para fazer.

Em uma madrugada fria de inverno,
eu quero já estar esperando com minhas bagagens na porta e
não haverá inseguranças, mas ansiedade em retornar logo para casa.

Em uma madrugada fria de inverno,
esperarei ver tudo aquilo em que acreditei e fundamentei minha vida,
encontrar-me-ei lá onde a razão da minha existência sempre me esperou.

Em uma madrugada fria de inverno,
quero ter apenas um desejo a passear pelo meu corpo já congelado pelo frio gritante:
que a morte não me encontre um dia, solitário, sem ter feito o que eu queria.

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 26 de outubro de 2011.
"Em tributo ao eterno Ir. Lopes..."