quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Tudo, em uma eterna espera por Si mesmo




Tudo chega ao seu ponto original um dia. Mesmo que nada pareça estar indo na direção certa, é ai que reside o perigo da desestrutura. As coisas acontecem naturalmente e nós não temos nada a interferir nelas. Elas simplesmente são. Quando nada estiver dando certo e o tudo se confundir com o nada, é ai, é esse ponto que foi tão longamente esperado pelo tudo e pelas pequeninas partículas. Deixe que cada coisa encontre sua reticência, e tudo se concertará sem nem mesmo precisar de desesperos preventivos. O tudo é tudo antes de nós.

Não se extermine pelos erros cometidos, somos seres inacabados. As coisas também. Não existe ponto final em nada, tudo que se inicia, jamais cessa, jamais acaba, jamais termina, jamais se desfaz; nem mesmo o acabado, até ele existirá depois do sol.

Há até quem diga que nada se inicia. Estranho não? Estranho mas credível, aliás, se sempre existiram não se inicia, simplesmente é. As coisas sempre existiram, nós sempre existimos; e sempre existiremos; sem dúvida alguma. A eternidade nos tem, nós a temos indiscutivelmente. O tudo nos lança ao extermínio da mediocridade dos seres, nos remete ao espírito de convenção constante e ativa; sem esperança em espera, sem ataque á lacuna, sem abuso ao poder de Ser, sem destruição de estado. Somos, é o que basta. O tudo basta. Sem mediocridade no estar.

E não há contradição do inicio ao final. Somos responsáveis pelo que somos, pelo que cometemos, pelo que proclamamos ou dizemos; e não pelo que pensaram que queríamos dizer ou expressar. A naturalidade é compatível ao acaso natural programado e esperado. O tudo é paciente, mesmo esperando por Ele mesmo, mesmo sendo Ele mesmo, mesmo estando n´Ele mesmo.

Sendo tudo, somos nada. Sendo nada, tudo. E esta é a naturalidade da existência, que não é tudo.



S Ednaldo Oliveira, SDB.

Recife/PE, 29 de fevereiro de 2012.

A natureza Divina do Homem


“Sem mácula e santos pelo Amor...”

(Ef 1, 4)



Por si só nossa natureza é divina! Desde o princípio, no Antigo Testamento, Deus selou o ser humano com a marca da divindade e separou-o para Ele. Não nos é estranho este assunto. Somos seres divinos. Mas como? Poderia o homem igualar-se a Deus e tornar-se senhor de si mesmo e até dos outros? Nós, meros seres mortais, poríamos considerarmo-nos eternos? Seres transcendentes e sem limites? Mas, se aqui tratamos de predestinação, como poderemos explicar os que não crêem e não aceitam tal natureza? Tudo isso é natureza da fé e sobre a fé, nada nos pode ficar sólido se não nos apoiarmos na Graça que Ele nos concede.

O apóstolo João, o mesmo que descreve a natureza de Deus (), revela-nos também a intervenção primeira deste mesmo Deus quando ressalta: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele nos amou por primeiro” (João 1, 4). A nossa particularidade divina, se é que assim podemos dizê-la, parte daí, da iniciativa de Deus em chamar-nos a esta natureza. Divinos por participação, sendo Ele por natureza. É Jesus quem torna-nos capazes de Deus.[1] Ele que é simultaneamente Deus e homem, torna-nos inseridos nessa permeabilidade. Mas esta “união íntima e vital com Deus” [2] pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada explicitamente pelo homem.

Tais atitudes podem ter origens muito diversas: a revolta contra o mal no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, as preocupações com as coisas do mundo e as riquezas[3], o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis á religião, e finalmente esta atitude do homem pecador que, por medo, se esconde diante de Deus[4] e foge diante de seu chamado[5].

A carta de São Paulo aos Efésios é o que podemos tomar com maior propriedade nesta área. Retratando lá sobre o “Plano divino da salvação” (Ef 1, 4), Paulo desde o inicio se eleva ao plano celeste, no qual se manterá toda a epístola. É do céu que, desde toda eternidade, partiram e é lá que se realiza o fim dos tempos.

Ser do alto não nos afasta em nada das intempéries e desafios do dia a dia. Ser divino não é ser alienado, pelo contrário! A natureza divina nos coloca no patamar da mais alta exigência e experiência de si mesmo consigo mesmo e com o Altíssimo. Foi de lá que viemos, é para lá que retornaremos. Foi d´Ele que partimos, é para Ele que vamos voltar. Aqui nasce o tema da liberdade, que não nos fixaremos, mas, se em uma relação existe amor, existe liberdade; e esta é a relação de Deus para com todos, seres livres e capazes d´Ele.



S Ednaldo Oliveira, SDB.

Recife/PE, 29 de fevereiro de 2012.





[1][1] RATZINGER, Joseph. JESUS DE NAZARÉ; tradução Bruno Bastos Lins. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011. P. 47.
[2] GS 19, 1.
[3] Mt 13, 22.
[4] Gn 3, 8-10.
[5] Jn 1, 3.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O fracasso de Deus


            Onde será enraizada uma teologia de um “deus” onipotente que em nada falha em nada erra? O que terá encharcado nossas mentes neste momento em que ousamos colocá-lo no auge máximo do poder? Por acaso um poderoso se preocupa por um humilde qualquer, por um servo qualquer? Por acaso um ser que em nada se assemelha aos seus quereria estar com aqueles que o servem?

            O nosso Deus, o Deus que Jesus Cristo anunciou e nos deu a conhecer; não exerce esse poderio, não aceita esse trono, não precisa desse lugar. Para alguns teólogos, este tema pode trazer um mal estar tremendo, uma grande dor de cabeça; para outros, porém, é uma subida favorável até o monte onde está Deus.

O poderio do nosso Deus é o poderio do Amor, que é Ele mesmo. É neste que Ele quer estar, que Ele deve estar e que ele sempre esteve. É tão mais acessível a nós. E não nos detemos a esta reflexão por complexo de inferioridade pela não aceitação do poder ou de “alguém” que mande em nós. Tal afirmação não muda em nada em Deus, nem acrescenta nem diminui. Ele não precisa dos nossos termos, nos é que necessitamos para chegar até Ele, para nos aproximarmos do caminho até Ele, e consequentemente chegarmos até nós.

E onde então Deus fracassou durante toda a história? Se levarmos em consideração, no antigo testamento a história dos reis escolhidos por Ele para Israel, constataremos que aqueles que foram escolhidos, em nada foram fiéis ao Deus que os chamou. Sendo Deus Onipotente sabia que eles não seriam fiéis, não seriam capazes.

Ao todo foram vinte e quatro reis, somente dois (Davi e Salomão) foram dignos do título da fidelidade á Deus. Desses dois, em um somente podemos confiar em sua fidelidade, o outro nem tanto. Esses que foram fieis a Deus (1 Reis 2, 3) e governaram com sabedoria e justiça servindo ao povo (1Reis  12, 7) que pertencia unicamente a Deus (1Reis 3, 8-9). É neste mesmo livro dos Reis que dar-se continuidade a história da sucessão, interrompida em 2 Sm 20, 22 com a velhice de Davi.

O fracasso do nosso Deus é o Amor pelos seus, Ele não conhece tempo; eterniza tudo. Até mesmo os seus...


S Ednaldo Oliveira, SDB.
Teotônio Vilela/AL, 24 de fevereiro de 2012.