sábado, 24 de dezembro de 2011

"Não espere eu ir embora pra perceber..."*

Ah! Se tu soubesses o que te espera, o que te grita angustiadamente, desesperadamente por ti. Não consigo pensar em mais nada, construir mais nada que você não esteja neste meio.
Qual é o nosso destino nessa história toda? Onde nós então chegaremos? Enlouquecido estou. Constantemente afastando de mim, sempre saindo, sempre procurando, sempre indo. Dentro deste contexto eu não mais me dirijo somente a mim, mas tem outro ser neste espaço; que rouba, que assalta, que aperta e quer continuar. E quando eu penso que me afasto, eu me achego; quando eu penso ser roubado, estou ganhando. É você que se aproxima e quer ficar.
Separei-me de todos, resisti a tudo para ficar com você; perceba-me. Dilate-me. Resgate-me. Como te esperei ontem, porque não apareceste? Fiquei em um silêncio profundo, mas tive medo de confrontar-me. A solidão riu de mim. Fez graça, fez pirraça. Consegui escapar com seu perfume deixado naquela rouba que roubei de ti. Fomentar e sustentar tornou-se regra.
Quero passar a mão em seus cabelos, sentir que eles deslizam sobre meus dedos trêmulos. Neste movimento você sobe em meus pés; espantados, perplexos, receosos. Um não quer invadir o outro e assim o momento vai ficando gostoso, vergonhoso e ingênuo. Os relógios não mais existem neste instante, perdem o valor.
Não espere que eu me vá pra sentir, ousar, querer, entender...     

N Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 14 de julho de 2011.

*Frase de Pitty


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

As tardes de setembro

As tardes de setembro são desastrosas e torturantes.
Elas esfregam em nós as coisas que deveríamos ter resolvido.
Elas esmagam em nós os atos que deveriam ter acontecido.      
Elas estragam tudo.             
Porque não nos deixam mais fazer pelo tempo que já não temos.

As tardes de setembro são escandalosas e frustrantes.
Elas nos esperam perto de uma janela qualquer.
Elas apertam as coisas e exigem uma saída da razão.
Elas não são justas.
Porque elas não nos esperam nos impulsionam mais a nada.

As tardes de setembro são longas e pesadas.
Elas quebram qualquer possibilidade de liberdade e reencontro.
Elas me livram de mim mesmo quando mais preciso estar lá.
Elas são amargas.
Porque nos situam em um horizonte inexistente.

As tardes de setembro são confrontadoras e mentirosas.
Elas nos alimentam na incredulidade das coisas.
Elas me colocam na expectativa de uma certeza frustrante.
Elas são astutas.
Porque não se mostram totalmente, mas gradativamente devagar e sempre.

As tardes de setembro são irrepetíveis e únicas.
Elas arrastam saudosismo e arrancam lágrimas.
Elas temem as transparências e preferem as conquistas.
Elas são um tempo de osmose.
Porque nos mudam, nos rasgam, nos assolam, nos esmagam.

As tardes de setembro são frustradas e humanas.
Elas não nos deixam fugir do que já deveríamos ter desvendado.
Elas não nos deixam fugir quando as motivações não aparecem.
Elas são claras.
Porque refletem a finalidade das motivações mais superficiais.

As tardes de setembro são preparos e decisões.
Elas não nos solidificam para as tardes seguintes de outubro.
Elas fazem o contrário, optam pela desconstrução das ilusões.
Elas são como vento.
Porque fazem bem o papel  da provação do que deveria ser rocha.

As tardes de setembro são raízes e lembranças.
Elas aram o sentido blindado que trouxemos até aqui.
Elas enterram-nos e sufocam-nos no buraco mais profundo existente.
Elas estufam canivetes.
Porque esperam de nós alarmes extremos funcionando e gritando ações.

As tardes de setembro são silenciosas e esperançosas.
Elas vão se estendendo sobre todo o feito e querendo respostas.
Elas esperam ansiosamente o retorno de nossa essência ao todo.
Elas não retornam.
Porque os dias vão e não voltam nunca mais.

N Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 30 de Setembro de 2011.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Quando o escuro chega até nós

                Quando chega a noite e tudo então é silenciado pela obrigação do calar-se, viajo ás mais belas paisagens organizadas por sobre minhas ações. Abre-se em mim verdades inexplicáveis que se voltam por sobre tudo aquilo que fiz e sou.
                Bem ali onde ninguém te escuta, onde ninguém te ver e a escuridão da noite te ofusca, é ali que se tenta, e até se acha outros focos que tratas de esconderes de tudo. Que as paredes não nos escutem quando então estivermos no ponto mais alto, em nossos horrores mais ferrenhos. Quando o espelho for então a nossa face e ousarmos acreditar na atualidade dos nossos ruídos, das nossas agonias.
                Quando me vem o que mais temo, quando me alcançou o que mais me cerca e me espia; é neste emaranhado complicado que me encontro quando todos se retiram e respiram.  Pela janela da minha cela eu vejo a lua. Ela está lá, grande como sempre, e alcança tudo e todos, crentes e ausentes. Vem ao meu encontro as grandes lâmpadas de horizonte que se aproximam, interrogam-me sobre tudo, querem conduzir-me aos seus espaçosos e astutos lugares. Que eu consiga escapar destes seringueiros que parecem amantes do saber.
                Quando o escuro chega até nós e nada mais parece ter sentido, nem mesmo o final de tudo, o sopro formador nos levantará. Esteja onde estivermos...


N Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, o9 de novembro de 2011.

Daqui dá pra ver o Trem

Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que é sonho de tantos que desejam mudar e transformar;
Ele que é esperança para quem necessita chegar e ficar;
Ele que é movimento seguro para quem tem medo de andar;
Ele que é petulância barulhenta para quem não tem paz.
                                                                     
Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que passa com fumaça e sem graça querendo chegar e entregar;
Ele que passa mostrando a desgraça aos possuidores da praça;
Ele que passa e derruba o comparsa que O tenta parar;
Ele que passa e anuncia e disfarça aquilo que abraça.

Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que volta e então se revolta com a vida acabada e esmagada;
Ele que volta e sem perder a rota procura outros trilhos;
Ele que volta e sem olhar o estrago, que continuar;
Ele que volta e com tanto barulho não é percebido.

Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que encontra se alegra e reconta o parado, quebrado, atrasado;
Ele que encontra e prepara um barulho, quer então festejar;
Ele que encontra e não quer prestar contar, quer somente estar;
Ele que encontra vagarosamente descansa e não pode parar.

Daqui dá pra ver o Trem...
Ele que espera, e não importa o tempo, está pronto a chamar;
Ele que espera e sabe o valor do que está a ganhar;
Ele que espera, está disposto ao desuso e ao enferrujar;
Ele que espera, encontra, volta, passa, É...


N Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 14 de novembro de 2011.