domingo, 10 de fevereiro de 2013

Senhores de um tempo que não passa nem nos tem



Por inúmeras vezes fomos levados a pensar que a temporalidade das coisas e fatos é o que nos faz seres mortais. Sempre escutamos isso. E assim vamos vivendo temendo a morte e observando as coisas que, vagarosamente vão se desfazendo, sumindo, morrendo. Parece ser frustrante, e na verdade o é. Saber que morreremos não é nada motivador, é esquisito e nos deixa limitados a um ato respirador. O temor á Deus parece nos colocar mais próximos de um patamar de existência mais duradoura por estar a serviço do Ato Criador. A expressão pode ser forte, mas isso não passa de mera bobagem. Somos seres infinitos, assim nos fez o Criador. Somos seres inacabados, não incompletos, mas em contínua trajetória de construção e constituição, aprendizado e evolução. Somos um grande projeto que deu certo e continua seu preito de execução.
Custa muito ao ser humano todas estas expressões. Para nós, entender que nada nos destruirá parece fútil quando nos deparamos com algumas situações deploráveis que a vida ousa nos apresentar; mais ainda, quando as desgraças e as fatalidades fazem de alguns dos nossos, reféns de sua “estúpida” lista. Ao longo da caminhada da vida somos obrigados a irmos nos despedindo de pessoas que amamos e querereríamos permanecer com elas por todo o sempre, por toda a nossa trajetória. Talvez se a nossa partida fosse feita ao lado delas, a dor não seria tanta por se tratar de uma nova experiência vivida juntos na qual não nos sentiríamos sozinhos. Mas, por mais que amemos o outro, a ideia da morte nos faz, na maioria das vezes, repensar se queremos mesmo ir embora.
É complexo. Assim como não fomos preparados para a morte, da mesma forma não fomos preparados para a ideia de existência plena, de continuidade, de eternidade. O pensamento cristão inculcou na humanidade uma nova forma de tratar a morte trazendo á tona o que os antigos já rabiscavam em pensamento, mas não arriscavam em afirmar, a ideia de eternos seres. Pode então nos ajudar a leitura de Eclesiastes ao tratar da temporalidade de Deus: “Compreendi que tudo o que Deus faz é para sempre...” (Eclesiastes 3, 14). É simplesmente fantástico observar o tempo verbal. Não é que Deus FEZ que é eterno, mas o que Ele FAZ. A obra da criação é obra continuada, é obra em andamento, é obra em evolução, é obra em movimento, é obra infinita, é Deus. Sendo Deus é eterno. Tendo sido o ser humano criado por Deus (Gênesis 1, 27) é obra pura de suas mãos, é obra idêntica de seu Autor, é orgulho de seu Pensador e Arquiteto. Isto confirma mais uma vez a nossa natureza eterna, agora com mais um elemento, o de sermos seres divinos. Somos senhores do tempo, nós o temos.
A temporalidade na qual estamos inseridos vai fazendo de nós seres medrosos e quase sem iniciativa nenhuma de consistência e persistência. Somos levados a abordar a temporalidade de uma forma talvez mais angustiante e sem noção nenhuma de esperança. Temporalidade é diferente de provisório. Aquilo que é provisório é passageiro, é infértil, não tem consistência ou compromisso com o ser. A temporalidade nos faz entrar na dinâmica de uma vida focada no tempo de Deus, o Kairós. Atribuí-se a este, adjetivos como graça, esperança, benção. É o tempo com o Autor de Tudo, um tempo que não passa, não pode ser descrito ou entendido dentro de nossas capacidades e entendimento humano.
Como seríamos nós se a Mão Criadora não continuasse sua obra em nosso viver? Pode uma coisa criada por Aquele que não teme a morte, e até passou por ela, se desfalecer e morrer? Se isso acontecesse, não estaria sendo um fracasso á obra de Deus? Pois bem. Aqui deste lado entendemos que a obra de Deus é inacabada, é eterna. A Mão Criadora continua sobre nós, continua “influenciando em nós”, continua conosco em todos os lugares. É possível senti-la. É perceptível seu movimento em nossas escolhas e em nosso cotidiano. Para onde ir então se não ao encontro desta palma? Onde repousar se não neste Eterno Movimento que vagarosamente nos acalenta e espera ansiosamente por cada uma de suas criaturas. Retornemos, pois á Ele. Vamos! Vamos para casa.

Ednaldo Oliveira, SDB
Lorena/SP, 11 de fevereiro de 2013.