quarta-feira, 14 de março de 2012

O mundo está menor






            Ninguém vive sozinho. Para viver em comunidade é preciso se desprender do individualismo, reconhecer-se como sujeito e ser social, tendo intrínseca a necessidade de relacionamento. A chamada relação interpessoal promove trocas de informações de acordo com a bagagem cultural associada à educação, história de vida e afabilidade. Esta última, cada vez mais escassa vem sendo “engolida” pela globalização.           

 Com o devir de uma nova forma de comunicação, nos tornamos mais próximos! É uma afirmação perigosa e poderíamos classificá-la até mesmo como mentirosa. A verdade que existe nela é que “o mundo está menor”. Sim, claro. Não se tem mais as mesmas dificuldades de locomoção física e muito menos no que diz respeito á informação. As cartas quase não existem mais e as facilidades nas redes sociais levam todos a “pensar” que estamos mais próximos, quando não estamos. Sendo assim, o mundo se separa cada vez mais, se torna maior a cada “clic” e nós nos afastamos cada vez mais.

Somos solitários em meio á tudo e todos. Nossas relações não nos solidificam mais e chegamos a pensar que, estar sozinhos é a melhor coisa no estado em que estamos de tamanha insegurança. É contraditório. E como explicamos os tantos amigos que vamos encontrando na rede? A solidão nos encarcerou em meio a tantos e tornou-se nossa companhia quando se trata de mundo virtual.

A essência humana é comunidade. Enraizar as nossas relações em meios solidificantes, ir à profundidade das coisas, retornar nosso espírito de confiabilidade que se encontra tão desestruturado. Tudo isso se torna urgência na atualidade. Querer estar junto ao outro com a capacidade de formar com ele um caminho que leva á meta comum; este é um mundo menor, mais integrado e encontrado. Estes somos nós, mais realizados, comunicáveis, integrados e verdadeiros.



S Ednaldo Oliveira, SDB
Recife/PE, 14 de março de 2012.

domingo, 11 de março de 2012

Viver é consumir e consumir-se



A busca desenfreada pelas coisas não é a finalidade do consumista, é o meio, o canal. Antes de consumir, a luta dentro de si mesmo é um fator desconcertante e sem explicação. Perde-se o sentido das coisas e não se sabe mais a finalidade do ser ou estar. É a principal característica do consumismo: a perda de sentido e da personalidade. O “ser” humano em sua essência requer um sentido para a existência e a relação entre ser e ter precisa caminhar juntas. A confusão gerada é destruidora.

Estando nesta desestruturação, a luta agora é para mostrar a todos os que estão ao redor, até mesmo os que não o conhecem e não são influentes, que se está bem; tendo. Nesta nova fase do desconcerto, se tornam importantes as pessoas que não eram, tornam-se até determinantes, porque são aquelas que estão no mesmo lugar que o individuo, nas compras; provas concretas de que se está bem.

 Existe uma grande diferença entre consumidor e consumista. O consumidor é aquele que, ao trabalhar e conseguir seu sustento precisa consumir para sobreviver. E se esforça bastante para permanecer num padrão de vida dentro da dignidade de ser humano. Já o consumista, tendo ou não tendo como se sustentar ele quer somente mostrar. Mostrar, primeiro para ele mesmo, depois para os outros que ele é. Essa é a primeira luta, depois é que vem a luta do ter. Que na realidade, ele nem sabe que é um consumista, um doente.

O símbolo da felicidade humana é o SER e não o TER. O único consumo dotado de dignidade humana é o consumo de si mesmo, é o perder-se em si mesmo, é o encontrar-se e encerrar-se em si mesmo. É esse o projeto do ser humano, se encontrar. É uma busca constante e desafiadora. Ao mesmo tempo, uma aventura por entre os mistérios de nossa consciência e inconsciência.



S Ednaldo Oliveira, SDB.
Recife/PE, 11 de março de 2012.

sábado, 10 de março de 2012

A maior viagem do mundo



Se eles soubessem o quanto carrego nos ombros o peso de tudo isso, se ao menos percebessem o alargamento em mim que existe em mim e o mim que se apresenta á eles; e por mais que queira, não consigo juntá-los, não consigo conciliá-los, igualá-los, amarrá-los, entrevê-los. Quem não entende sou eu, quem não agüenta sou eu, quem não suporta sou eu, quem não sabe mais o que fazer sou eu, quem está determinantemente desesperado, sou eu.

            As coisas não são tão fáceis como esperamos, as coisas não se deslocam como programamos, as coisas não se desenvolvem como projetamos, as coisas não são tão claras como queremos. Do mesmo modo, nós não somos como deveríamos.

            Ninguém faz o que quer, ninguém fica com o que quer, ninguém espera como quer, ninguém estabelece como quer, ninguém se relaciona como quer, ninguém é o que quer. A estabilidade é escarnecida. Não somos coisas, mas nos projetamos e nos comportamos como tais. E não há outra receita além dessa, e quem já descobriu esta incriável, por favor, me mostre, pois não consigo chegar até ela e pago um alto preço por isso. Ninguém sabe quem é essa tal ninguém que existe dentro em nós. Um astuto sem precisão. Da mente ao coração.

            Estou a ponto de não mais saber onde, como, porque, por onde, de onde, para onde... E quando se chega a este estágio é sinal que não estamos nada bem. Porque me perguntar tanto sobre mim se sei que não responderiam a mesma pergunta direcionada ao lado contrário da ordem? Nada é como desejamos, não chegamos onde queremos, não conhecemos tudo que queremos, nem precisaríamos. Acontece o mesmo com nossas maiores profundezas. Nós não conhecemos seus caminhos.

            Ser fruto do meio é extremamente credível, ser esperança de alguém é um fator importante, mas, “ser busca” de si mesmo é determinante e nós nunca chegaremos a nós mesmos completamente. É desafiador. Mas me sinto melhor ao constatar isso. Significa que então não parei no caminho e me vejo um eterno bobão que vai e vem, ganha e perde, acha e procura novamente, chora e ri; na constante luta da vida; entre nós e nós, eu e eu, você e você. Na maior viagem, da mente ao coração.

            Para todos os lugares existentes existem também caminhos existentes. Não há nenhuma contradição ou redundância. Se existe o ser, existirá também, em algum lugar o caminho até ele; e, por mais que ousemos procurá-lo, ele parece esconder-se de nós. E nesta luta constante nós sempre acabamos perdendo no final de tudo. E ele rindo de todos.

            O que fazer então no fim do dia quando o sol novamente nos interrompe quando nós pensávamos iniciar o processo de iniciação ao primeiro degrau de uma escada inacabada? Como esconder nossas maiores mazelas recheadas de um sentimento enorme de desprezo por não ter conseguido chegar até nós mesmos? O que temer mais? O que querer mais neste fim de tarde sombrio e sozinho sem nem mesmo nós nos encontrarmos naquele banco sujo e tão visitado que tão longamente esperamos encontrar?

            Se a tarde chegou e não consegui caminhar... Ótimo, é sinal de que não fiz exatamente nada! Porque somos assim, cada dia um mim toma conta de mim. E, e no final de tudo, a culpa é toda minha por não saber quem sou. E porque tenho medo de descobrir quem sou?



S Ednaldo Oliveira, SDB.
Recife/PE, 05 de março de 2012.