Por inúmeras vezes fomos
levados a pensar que a temporalidade das coisas e fatos é o que nos faz seres
mortais. Sempre escutamos isso. E assim vamos vivendo temendo a morte e
observando as coisas que, vagarosamente vão se desfazendo, sumindo, morrendo. Parece
ser frustrante, e na verdade o é. Saber que morreremos não é nada motivador, é
esquisito e nos deixa limitados a um ato respirador. O temor á Deus parece nos
colocar mais próximos de um patamar de existência mais duradoura por estar a
serviço do Ato Criador. A expressão pode ser forte, mas isso não passa de mera
bobagem. Somos seres infinitos, assim nos fez o Criador. Somos seres
inacabados, não incompletos, mas em contínua trajetória de construção e
constituição, aprendizado e evolução. Somos um grande projeto que deu certo e
continua seu preito de execução.
Custa muito ao ser humano
todas estas expressões. Para nós, entender que nada nos destruirá parece fútil
quando nos deparamos com algumas situações deploráveis que a vida ousa nos
apresentar; mais ainda, quando as desgraças e as fatalidades fazem de alguns
dos nossos, reféns de sua “estúpida” lista. Ao longo da caminhada da vida somos
obrigados a irmos nos despedindo de pessoas que amamos e querereríamos
permanecer com elas por todo o sempre, por toda a nossa trajetória. Talvez se a
nossa partida fosse feita ao lado delas, a dor não seria tanta por se tratar de
uma nova experiência vivida juntos na qual não nos sentiríamos sozinhos. Mas,
por mais que amemos o outro, a ideia da morte nos faz, na maioria das vezes,
repensar se queremos mesmo ir embora.
É complexo. Assim como
não fomos preparados para a morte, da mesma forma não fomos preparados para a
ideia de existência plena, de continuidade, de eternidade. O pensamento cristão
inculcou na humanidade uma nova forma de tratar a morte trazendo á tona o que
os antigos já rabiscavam em pensamento, mas não arriscavam em afirmar, a ideia
de eternos seres. Pode então nos ajudar a leitura de Eclesiastes ao tratar da
temporalidade de Deus: “Compreendi que tudo o que Deus faz é para sempre...”
(Eclesiastes 3, 14). É simplesmente fantástico observar o tempo verbal. Não é
que Deus FEZ que é eterno, mas o que Ele FAZ. A obra da criação é obra
continuada, é obra em andamento, é obra em evolução, é obra em movimento, é
obra infinita, é Deus. Sendo Deus é eterno. Tendo sido o ser humano criado por
Deus (Gênesis 1, 27) é obra pura de suas mãos, é obra idêntica de seu Autor, é
orgulho de seu Pensador e Arquiteto. Isto confirma mais uma vez a nossa
natureza eterna, agora com mais um elemento, o de sermos seres divinos. Somos
senhores do tempo, nós o temos.
A temporalidade na qual
estamos inseridos vai fazendo de nós seres medrosos e quase sem iniciativa
nenhuma de consistência e persistência. Somos levados a abordar a temporalidade
de uma forma talvez mais angustiante e sem noção nenhuma de esperança. Temporalidade
é diferente de provisório. Aquilo que é provisório é passageiro, é infértil,
não tem consistência ou compromisso com o ser. A temporalidade nos faz entrar
na dinâmica de uma vida focada no tempo de Deus, o Kairós. Atribuí-se a este, adjetivos como graça, esperança, benção.
É o tempo com o Autor de Tudo, um tempo que não passa, não pode ser descrito ou
entendido dentro de nossas capacidades e entendimento humano.
Como seríamos nós se a
Mão Criadora não continuasse sua obra em nosso viver? Pode uma coisa criada por
Aquele que não teme a morte, e até passou por ela, se desfalecer e morrer? Se isso
acontecesse, não estaria sendo um fracasso á obra de Deus? Pois bem. Aqui deste
lado entendemos que a obra de Deus é inacabada, é eterna. A Mão Criadora
continua sobre nós, continua “influenciando em nós”, continua conosco em todos
os lugares. É possível senti-la. É perceptível seu movimento em nossas escolhas
e em nosso cotidiano. Para onde ir então se não ao encontro desta palma? Onde repousar
se não neste Eterno Movimento que vagarosamente nos acalenta e espera
ansiosamente por cada uma de suas criaturas. Retornemos, pois á Ele. Vamos! Vamos
para casa.
Ednaldo Oliveira, SDB
Lorena/SP, 11 de fevereiro de 2013.
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