quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A natureza Divina do Homem


“Sem mácula e santos pelo Amor...”

(Ef 1, 4)



Por si só nossa natureza é divina! Desde o princípio, no Antigo Testamento, Deus selou o ser humano com a marca da divindade e separou-o para Ele. Não nos é estranho este assunto. Somos seres divinos. Mas como? Poderia o homem igualar-se a Deus e tornar-se senhor de si mesmo e até dos outros? Nós, meros seres mortais, poríamos considerarmo-nos eternos? Seres transcendentes e sem limites? Mas, se aqui tratamos de predestinação, como poderemos explicar os que não crêem e não aceitam tal natureza? Tudo isso é natureza da fé e sobre a fé, nada nos pode ficar sólido se não nos apoiarmos na Graça que Ele nos concede.

O apóstolo João, o mesmo que descreve a natureza de Deus (), revela-nos também a intervenção primeira deste mesmo Deus quando ressalta: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele nos amou por primeiro” (João 1, 4). A nossa particularidade divina, se é que assim podemos dizê-la, parte daí, da iniciativa de Deus em chamar-nos a esta natureza. Divinos por participação, sendo Ele por natureza. É Jesus quem torna-nos capazes de Deus.[1] Ele que é simultaneamente Deus e homem, torna-nos inseridos nessa permeabilidade. Mas esta “união íntima e vital com Deus” [2] pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada explicitamente pelo homem.

Tais atitudes podem ter origens muito diversas: a revolta contra o mal no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, as preocupações com as coisas do mundo e as riquezas[3], o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis á religião, e finalmente esta atitude do homem pecador que, por medo, se esconde diante de Deus[4] e foge diante de seu chamado[5].

A carta de São Paulo aos Efésios é o que podemos tomar com maior propriedade nesta área. Retratando lá sobre o “Plano divino da salvação” (Ef 1, 4), Paulo desde o inicio se eleva ao plano celeste, no qual se manterá toda a epístola. É do céu que, desde toda eternidade, partiram e é lá que se realiza o fim dos tempos.

Ser do alto não nos afasta em nada das intempéries e desafios do dia a dia. Ser divino não é ser alienado, pelo contrário! A natureza divina nos coloca no patamar da mais alta exigência e experiência de si mesmo consigo mesmo e com o Altíssimo. Foi de lá que viemos, é para lá que retornaremos. Foi d´Ele que partimos, é para Ele que vamos voltar. Aqui nasce o tema da liberdade, que não nos fixaremos, mas, se em uma relação existe amor, existe liberdade; e esta é a relação de Deus para com todos, seres livres e capazes d´Ele.



S Ednaldo Oliveira, SDB.

Recife/PE, 29 de fevereiro de 2012.





[1][1] RATZINGER, Joseph. JESUS DE NAZARÉ; tradução Bruno Bastos Lins. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011. P. 47.
[2] GS 19, 1.
[3] Mt 13, 22.
[4] Gn 3, 8-10.
[5] Jn 1, 3.

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