Um Cristo pequeno, sentado, diminuído para ficar do nosso tamanho, igual a nós. Ele senta e fala das nossas coisas, de nós. Coisas que nem nós mesmos temos coragem de falar, de tocar; porque machucam demais o nosso interior. Mas são coisas que nós mesmos escolhemos, nós mesmos cultivamos e não queremos largar; mas, quando ele fala, dói. A vergonha vem e bate a porta que fechamos há tanto tempo, lacramos com tantas falsidades, com tantas desculpas e, depois, nem sabemos mais o porquê da fechadura.
Quando, nas passagens do evangelho Cristo senta para conversar, é melhor sentar também, pois daí vão sair coisas jamais imaginadas. Como naquela passagem com a samaritana de Sicar que Ele “senta junto á fonte” (João 4, 6). É um momento semelhante aos tantos outros que Ele fala ás multidões e senta na maioria das vezes. Não é estranho? Como falar para muitos, sentado? Ele é capaz de ir até o tamanho de todos. Talvez naquele meio tenha havido alguém que tenha até se incomodado com aquele gesto, talvez não estivesse nem vendo mais Jesus pelo fato d´Ele ter ficado mais baixo depois de ter sentando; mas veja, aquele audacioso teve raiva de Jesus porque não estava mais O vendo. E porque não mais via Jesus? Porque não sentou. Preferiu ficar em pé, superior, não quis sujar a roupa, ou simplesmente estava apressado. Mas, de que indivíduo estamos falando? Quem terá sido este atrevido?
Ah! Quantas vezes eu fui esse hipócrita... Quantas vezes não quis sujar a minha roupa, quantas vezes não quis estar ali sentado e escutando porque eu queria estar ensinando, eu queria estar falando no lugar d´Ele. Nós sempre temos dificuldade de sermos amados, nos queremos sempre amar. Parece contraditório, mas não é. É a pura realidade! Nossa arrogância é tamanha que nós sempre queremos estar dando e nunca recebendo, porque assim, estaremos sempre na alta, com o ibope lá em cima: “vejam, como ele é caridoso”. Isso não é caridade é ego. Na mesma passagem, Jesus pede uma caneca de água. Olhem até onde Ele foi, olhem o que Ele fez. Pedir água aqui é determinante, ele nem precisava dela porque Ele é a verdadeira, “a água que jorra para a vida eterna” (João 4, 14). Mas Ele vai até o tamanho da pessoa com quem está falando.
Sentou e falou com ela e ela ficou encantada. Quem sabe até por interesse para “não mais precisar tirar água do poço” (João 4, 15) “já que era muito fundo” (João 4, 11). Quantas vezes nós também tratamos de negócios com o Senhor... Mas para aquela mulher, nada mais lhe tirara atenção, nada mais valia e agora ela via quem realmente valia. Quantos maridos nós também temos em nossa vida, que nos tiram a atenção, nos destroem e que nos enganam não nos deixando mais ver a verdade, que nos deixam com sede.
Se nos valermos da geografia daquela época, vamos constatar que nem Jesus nem os discípulos precisavam parar em Sicar. Foi um ato contraditório e perigoso! Mas, o encontro com aquela mulher estava marcado sem nem mesmo ela saber de nada. Não é por acaso que a mulher agride Jesus no ato de responder a seu pedido: “Como é que tu sendo Judeu, pedes de beber a mim, que sou samaritana”? (João 4, 9). Foi um ato escandaloso em muitas dimensões. Primeiro, era uma mulher; segundo, era samaritana. Pode até nos passar despercebido ou ainda, pode até ser mais amplo para tal reflexão o fato da hora, mas, “era quase meio dia” (João 4, 6), e todos podiam ver. O que fariam com ela se a vissem conversando com um homem? E ainda judeu? O medo dela foi tremendo.
Os primeiros a não entenderem foram os discípulos: “e ficaram admirados ao verem Jesus conversando com uma mulher” (João 4, 27). Jesus realmente não se importa. Em contrapartida, quando a mulher saiu fez a mesma coisa que os magos, voltou por outro lugar, “foi á cidade e disse para as pessoas: ‘Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! ’” (João 4, 29). Quem sabe é isto que está faltando para nós, encontrar Jesus em algum poço qualquer. Será que Ele não já nos esperou no lugar onde deveríamos estar, na hora certa onde nós deveríamos já estar somente esperando e nós não aparecemos? Será que Ele não se arriscou novamente, sentou-se novamente á nossa espera e nós tornamos a ficar em pé?
A caridade pastoral daquela samaritana foi fantástica! Ela correu logo para anunciar e “o pessoal foi ao encontro de Jesus” (João 4, 30). Essa mulher não tinha nenhum ego; era pequenina, humilhada e não chegou sendo ela a protagonista, pelo contrário, sabia seu lugar: “não será Ele o Messias?” (João 4, 29) a quem tanto procuramos? E para provar que ela não era o foco de nada, os próprios samaritanos completam mais tarde: “já não acreditamos por causa daquilo que você disse. Agora, nós mesmos ouvimos e sabemos que este é realmente o salvador do mundo!” (João 4, 42). O próprio Jesus ficou com eles aquele dia (João 4, 40) porque também eles quiseram ficar com Jesus ao ponto de pedir para que Ele permanecesse ali (João 4, 40). Eles também tiveram sede e foram á fonte, desta vez, (não mais como a mulher) mas verdadeira fonte.
Ousemos, pois, passar por um desses poços, que consigamos passar uma tarde sentados com Jesus, não porque Ele está cansado, mas porque nós O encontramos sentado, esperando, por causa de nós.
N Ednaldo Oliveira, SDB.
Borda do Campo/MG, 23 de janeiro de 2012. Retiro dos noviços para a primeira profissão.
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