sábado, 5 de janeiro de 2013

Chega o dia em que até a vida precisa de uma faxina




Começar é sempre desafiador. Temos medo de tudo o que não conhecemos e de tudo o que parece vem ao nosso encontro com olhos de invasão, com olhos de crítica, com olhos de avaliação. O medo vai assim tomando conta da gente e vamos perdendo muita coisa pelo caminho. Ah! Como perdemos por medo de tentar, por medo de arriscar, por medo de ver aqueles olhos invasivos nos olhando, com medo de que alguém nos avalie.
Abrir mão de nossas seguranças, de nossas bases, de nossas amarras, de nossos confortos, de nossos certificados nos leva ao patamar da espera pelo outro. Nós não queremos depender de ninguém, queremos sempre ser aves livres que voam independentemente de alguém, independentemente de lugar ou responsabilidades. Também as aves, um dia, precisaram aprender a voar e pisaram nosso chão. Também elas precisaram de calor para desabrochar, e esse veio de um outro ser igual a ela. Ninguém vive só, até mesmo as pedras procuram os caminhos por estes serem sempre transitados pelas pessoas, ressaltava o poeta desconhecido.
É preciso coragem para seguir em frente! É preciso consciência do que já se fez e do que se pode ser feito. É preciso uma faxina de vez em quando para reorganizar a vida e jogar fora o que não nos leva a nós mesmos. Chega o dia em que nós precisamos ter coragem de partir e alçar voo sobre novas áreas da vida. Chega o dia em que não podemos mais permanecer na zona de conforto e a vida nos pede sempre mais, e não podemos dizer não á vida, ela é magnífica e não se repete. Chega o dia em que nós não conseguimos mais permanecer com o medo que aterroriza nossos atos.
Começar, ou recomeçar, traz consigo o medo de perder-se. Ninguém gosta de se perder, seja em lugares onde vamos pela primeira vez ou na própria cidade em que estamos, residimos. Queremos sempre estar antenados a todo movimento que circunda á nossa volta, até mesmo das pessoas que estão á nossa volta. O medo do desconhecido nos apavora, nos amedronta, nos desestrutura. Esse é o medo de se perder. O medo de caminhar por lugares em que não estamos acostumados tira as nossas seguranças e faz de nós seres em constante evolução, seres dinâmicos, em movimento. Seres capazes de elevação, de transcendência.
O medo não nos pode tirar a paz. O medo não nos pode tirar o sossego de seguir em frente á procura de nossa essência (porque esse é o motivo de caminharmos tanto, encontrar essência primitiva de nosso eu neste cosmo, nesta confusão sem razão ou precisão), antes, deve ser em nós explosão de sentimentos contraditórios á nossa vontade de ficar e “esperar”. O medo deve me fazer ir em frente, sair correndo, gritando sem querer ficar por não concordar ou não aceitar. Ele não pode me possuir ao ponto de ditar o que devo ou não fazer ou escolher.
Também não podemos descartá-lo. Ele é sinal de preventividade nas escolhas fundamentais de nossa vida. Sem ele, andaríamos na ilusão dos desgovernados, na espera frustrante dos que almejam sem cessar o que não podem possuir, na estrada dolorosa e escura daqueles espiões frenéticos que estão á nossa volta sempre nos criticando por não quererem se aceitar, nos escombros dos desamparados por fazerem da vida um campo de batalha com seu próprio corpo por pensarem ser isso o tal aproveitamento desta.
Em mim o medo não se tornou tirano de meus dias. Posso ter um dia estado neste espaço, neste patamar, mas hoje não mais. Hoje ele se encontra naquele lugarzinho pequeno, bem reservado para ele, do preventivo. Mas já me fez chorar algumas noites escuras, já me fez pensar muito nas decisões que estavam prestes a serem tomadas, já me fez errar por ter medo de ter medo. Eu antes me escondia, antes eu fugia, antes eu olhava pelos pequenos espaços que iam me proporcionando olhar, que iam me deixando olhar; nunca me deixavam ver a realidade. No hoje da história as coisas são diferentes, pelo menos eu quero que sejam diferentes. Quero ver novo sol se espalhar por sobre a minha vida, por sobre a minha existência.
Penso que seja assim nosso caminhar, ir tocando o que vamos recebemos por consequência daquilo que vamos escolhendo. Porque a vida é assim, nós vamos colhendo as consequências de nossas escolhas e vamos assim organizando tudo o que recebemos. Nada de ficar por ai chorando nossos azares e velando o que poderíamos ter sido se tivéssemos feito aquela escolha. Não! Avancemos pois adiante, ainda há tempo, sempre há tempo de fazer aquela limpeza nas nossas coisas velhas e jogar fora tudo o que não presta e vai tirando o espaço das coisas que realmente queríamos que ali estivessem. Assim também acontece com nossa vida. As coisas vão acontecendo conforme o que vamos pondo como prioridade. Consciência sempre ajuda nessas horas. Consciência dos passos dados e dos não dados, dos atos feitos e não feitos, das coisas que tomaram o lugar das pessoas e hoje não mais temos coragem de mudar o foco da situação.  Que ele nunca me faça pensar no declinar de meus dias nas coisas que eu deveria ter feito. Penso que esta seja a maior frustração: o que eu deveria ter feito. Não existe nada pior que perceber não ter mais tempo para aquilo que queríamos e acreditávamos ser segredo de felicidade. Que eu tenha força para não sair de meu foco, e que não me falte a fé.
Que o encontro seja sempre ponto para despedidas. É preciso estar pronto para despedidas. Despedir-se do que não me faz bem, do que não me traz bondade, do não me faz chegar mais perto de quem amo, de quem quero junto a mim. E quem sabe me despedir também daqueles que eu mais queria junto a mim. Preciso estar pronto a derramar algumas lágrimas se estiver disposto a crescer, porque crescimento concorre para mudança de estrutura, e quase ninguém quer sair da linha de conforto para o escorregão do tentar. Pois bem, que eu nunca queira permanecer no patamar da inexistência, que eu tenha sempre coragem para sair dos trilhos que me ditam e mostrar outro percurso, talvez mais longo, porém mais meu.
Que você também saiba esperar novos dias, assim me encontro perpetuamente, e quero sempre assim estar. Novos dias, novos rumos, novos voos, novos trilhos. Deve existir lugares nunca transitados, nunca vistos, nunca descobertos que estão loucos para serem explorados. Quem sabe esses lugares não estejam tão longe assim. Quem sabe esses lugares misteriosos e escuros estejam bem dento de mim. Quem sabe eu tenha medo de ir até eles, quem sabe o meu maior medo seja o medo de mim mesmo por querer sempre ser outro, ter outro. Quem sabe o desconhecido não passe de meus pés. Quem sabe o limiar da esperança me espere bem na linha do meu nariz, mas eu tenha medo de abrir os olhos.
 Porque a vida é assim, é preciso coragem para tentar rebuscar o novo, mesmo que isso nos custe vencer o medo de dizer quem somos. O novo nos tem. A vida nos tem. Mas, o medo de tentar é sempre o inimigo do meu eu, pois começar é sempre desafiador. Mas que venham novos dias, que venhas novas pessoas, que venham novos desafios, que venham novas e mais fortes avaliações, provas... estaremos prontos para partidas e recomeços, pois a vida sempre se repete e pede de nós somente a coragem para seguir seus desvios e retas.


Ednaldo Oliveira, SDB
Campinas/SP, 22 de dezembro de 2012.


Um comentário:

  1. Ótimo texto meu amigo! Seja sempre você mesmo! Se doe de coração, alma, pé, cabeça, dedo, barriga. Você é muito especial, determinado e reto no que queres... Você sendo sempre verdadeiro as pessoas estarão mais próximos de ti, assim como ficou a CJC. Te cuida e saudades!

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