Começar é sempre
desafiador. Temos medo de tudo o que não conhecemos e de tudo o que parece vem
ao nosso encontro com olhos de invasão, com olhos de crítica, com olhos de
avaliação. O medo vai assim tomando conta da gente e vamos perdendo muita coisa
pelo caminho. Ah! Como perdemos por medo de tentar, por medo de arriscar, por
medo de ver aqueles olhos invasivos nos olhando, com medo de que alguém nos
avalie.
Abrir mão de nossas
seguranças, de nossas bases, de nossas amarras, de nossos confortos, de nossos
certificados nos leva ao patamar da espera pelo outro. Nós não queremos
depender de ninguém, queremos sempre ser aves livres que voam independentemente
de alguém, independentemente de lugar ou responsabilidades. Também as aves, um
dia, precisaram aprender a voar e pisaram nosso chão. Também elas precisaram de
calor para desabrochar, e esse veio de um outro ser igual a ela. Ninguém vive
só, até mesmo as pedras procuram os caminhos por estes serem sempre transitados
pelas pessoas, ressaltava o poeta desconhecido.
É preciso coragem para
seguir em frente! É preciso consciência do que já se fez e do que se pode ser
feito. É preciso uma faxina de vez em quando para reorganizar a vida e jogar
fora o que não nos leva a nós mesmos. Chega o dia em que nós precisamos ter
coragem de partir e alçar voo sobre novas áreas da vida. Chega o dia em que não
podemos mais permanecer na zona de conforto e a vida nos pede sempre mais, e
não podemos dizer não á vida, ela é magnífica e não se repete. Chega o dia em
que nós não conseguimos mais permanecer com o medo que aterroriza nossos atos.
Começar, ou recomeçar,
traz consigo o medo de perder-se. Ninguém gosta de se perder, seja em lugares
onde vamos pela primeira vez ou na própria cidade em que estamos, residimos.
Queremos sempre estar antenados a todo movimento que circunda á nossa volta,
até mesmo das pessoas que estão á nossa volta. O medo do desconhecido nos
apavora, nos amedronta, nos desestrutura. Esse é o medo de se perder. O medo de
caminhar por lugares em que não estamos acostumados tira as nossas seguranças e
faz de nós seres em constante evolução, seres dinâmicos, em movimento. Seres
capazes de elevação, de transcendência.
O medo não nos pode tirar
a paz. O medo não nos pode tirar o sossego de seguir em frente á procura de
nossa essência (porque esse é o motivo de caminharmos tanto, encontrar essência
primitiva de nosso eu neste cosmo, nesta confusão sem razão ou precisão),
antes, deve ser em nós explosão de sentimentos contraditórios á nossa vontade
de ficar e “esperar”. O medo deve me fazer ir em frente, sair correndo,
gritando sem querer ficar por não concordar ou não aceitar. Ele não pode me
possuir ao ponto de ditar o que devo ou não fazer ou escolher.
Também não podemos
descartá-lo. Ele é sinal de preventividade nas escolhas fundamentais de nossa
vida. Sem ele, andaríamos na ilusão dos desgovernados, na espera frustrante dos
que almejam sem cessar o que não podem possuir, na estrada dolorosa e escura
daqueles espiões frenéticos que estão á nossa volta sempre nos criticando por
não quererem se aceitar, nos escombros dos desamparados por fazerem da vida um
campo de batalha com seu próprio corpo por pensarem ser isso o tal
aproveitamento desta.
Em mim o medo não se tornou
tirano de meus dias. Posso ter um dia estado neste espaço, neste patamar, mas
hoje não mais. Hoje ele se encontra naquele lugarzinho pequeno, bem reservado
para ele, do preventivo. Mas já me fez chorar algumas noites escuras, já me fez
pensar muito nas decisões que estavam prestes a serem tomadas, já me fez errar
por ter medo de ter medo. Eu antes me escondia, antes eu fugia, antes eu olhava
pelos pequenos espaços que iam me proporcionando olhar, que iam me deixando
olhar; nunca me deixavam ver a realidade. No hoje da história as coisas são
diferentes, pelo menos eu quero que sejam diferentes. Quero ver novo sol se
espalhar por sobre a minha vida, por sobre a minha existência.
Penso que seja assim
nosso caminhar, ir tocando o que vamos recebemos por consequência daquilo que
vamos escolhendo. Porque a vida é assim, nós vamos colhendo as consequências de
nossas escolhas e vamos assim organizando tudo o que recebemos. Nada de ficar
por ai chorando nossos azares e velando o que poderíamos ter sido se tivéssemos
feito aquela escolha. Não! Avancemos pois adiante, ainda há tempo, sempre há
tempo de fazer aquela limpeza nas nossas coisas velhas e jogar fora tudo o que
não presta e vai tirando o espaço das coisas que realmente queríamos que ali
estivessem. Assim também acontece com nossa vida. As coisas vão acontecendo
conforme o que vamos pondo como prioridade. Consciência sempre ajuda nessas
horas. Consciência dos passos dados e dos não dados, dos atos feitos e não
feitos, das coisas que tomaram o lugar das pessoas e hoje não mais temos
coragem de mudar o foco da situação. Que
ele nunca me faça pensar no declinar de meus dias nas coisas que eu deveria ter
feito. Penso que esta seja a maior frustração: o que eu deveria ter feito. Não
existe nada pior que perceber não ter mais tempo para aquilo que queríamos e
acreditávamos ser segredo de felicidade. Que eu tenha força para não sair de
meu foco, e que não me falte a fé.
Que o encontro seja
sempre ponto para despedidas. É preciso estar pronto para despedidas.
Despedir-se do que não me faz bem, do que não me traz bondade, do não me faz
chegar mais perto de quem amo, de quem quero junto a mim. E quem sabe me
despedir também daqueles que eu mais queria junto a mim. Preciso estar pronto a
derramar algumas lágrimas se estiver disposto a crescer, porque crescimento
concorre para mudança de estrutura, e quase ninguém quer sair da linha de conforto
para o escorregão do tentar. Pois bem, que eu nunca queira permanecer no
patamar da inexistência, que eu tenha sempre coragem para sair dos trilhos que
me ditam e mostrar outro percurso, talvez mais longo, porém mais meu.
Que você também saiba
esperar novos dias, assim me encontro perpetuamente, e quero sempre assim
estar. Novos dias, novos rumos, novos voos, novos trilhos. Deve existir lugares
nunca transitados, nunca vistos, nunca descobertos que estão loucos para serem
explorados. Quem sabe esses lugares não estejam tão longe assim. Quem sabe
esses lugares misteriosos e escuros estejam bem dento de mim. Quem sabe eu
tenha medo de ir até eles, quem sabe o meu maior medo seja o medo de mim mesmo
por querer sempre ser outro, ter outro. Quem sabe o desconhecido não passe de
meus pés. Quem sabe o limiar da esperança me espere bem na linha do meu nariz,
mas eu tenha medo de abrir os olhos.
Porque a vida é assim, é preciso coragem para
tentar rebuscar o novo, mesmo que isso nos custe vencer o medo de dizer quem
somos. O novo nos tem. A vida nos tem. Mas, o medo de tentar é sempre o inimigo
do meu eu, pois começar é sempre desafiador. Mas que venham novos dias, que
venhas novas pessoas, que venham novos desafios, que venham novas e mais fortes
avaliações, provas... estaremos prontos para partidas e recomeços, pois a vida
sempre se repete e pede de nós somente a coragem para seguir seus desvios e
retas.
Ednaldo Oliveira, SDB
Campinas/SP, 22 de dezembro de 2012.
Ótimo texto meu amigo! Seja sempre você mesmo! Se doe de coração, alma, pé, cabeça, dedo, barriga. Você é muito especial, determinado e reto no que queres... Você sendo sempre verdadeiro as pessoas estarão mais próximos de ti, assim como ficou a CJC. Te cuida e saudades!
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