A espera é uma das ações
mais antigas da história da humanidade. Consciente ou inconscientemente todos
já esperaram. Esperar passa pelos estágios mais diversos, desde o esperar
alguém (com toda ansiedade que isso traz) ao esperar o andar lento, e por hora
improdutivo, em uma fila, por qualquer que seja a necessidade. Pode-se também
viver esse processo de espera por consequência de uma promessa feita, ou ainda
por um pedido enviado. E como se esquecer da espera que é experimentada pela
mãe que, profundamente imersa no contato consigo mesma, ela acaricia a barriga
num gesto antecipador do que depois fará em seu bebe carregando-o em seus
braços.
Porém, essa mãe contempla
uma das formas mais bonitas daquilo que chamamos espera; nela encontramos o
exemplo “perfeito” porque, podendo, não antecipa aquilo que já lhe foi dado,
aquilo que já é seu por direito, mas pacientemente permanece fiel, pois confia
na promessa que lhe foi feita. Quando algo nos pertence, nada faz com que
nossos olhos não contemplem ou nossas mãos não toquem. O que é nosso, cedo ou
tarde chega até nós.
Quem espera nunca é
iludido. A consciência ou confirmação de que todos já esperaram não traz a
certeza de que continuarão esperando. A espera é uma escolha. Não se pode
pensar escolhas desvinculadas das consequências que elas trarão. Quando isso
acontece, o fracasso é logo esperado com tonalidade de certeza. Diante de
qualquer situação, todo ser humano precisa estar desvinculado de qualquer
situação que o torne refém ou devedor, desprendido de qualquer condição que o
force ou interfira em sua ação/escolha. Para que a escolha seja feita bem feita,
é preciso que se tenha um panorama geral, afinal; escolher é pegar isso e
largar aquilo. Não existe meio termo neste contexto. Nunca se escolhe tudo,
somente o Tudo.
As escolhas vão expressando
a personalidade do ser humano. A pessoa é aquilo que escolhe. Tanto aquilo que
escolher ser, quanto aquilo que escolher ter. Aquilo que está no ambiente em
que estou inserido vai influenciar, vai expressar os valores pelos quais eu
fundamento e vivo minha existência. Sem nenhuma pretensão de redundância no
termo. Escolher é sempre um processo
doloroso nesse sentido, pois passa pelo limiar de renunciar isso e ficar com
aquilo, de ser esse e não isso, de ser assim e não daquele outro modo ditado,
dito, pedido. Mas, quem escolhe, pressupõe-se que se tenha visão geral, experiência
de um conjunto de possibilidades e que neste meio, conscientemente eu declaro
querer algo deste todo. Exercer uma escolha é para os corajosos, nem todos tem
coragem de escolher porque a escolha pressupõe responsabilidade nas consequências
que estas trarão e na maioria das vezes nós queremos que outros escolham em
nosso lugar e assuma tais responsabilidades. É sempre mais confortável estar,
ou querer permanecer debaixo de algum ditador, ou como chamamos para melhor nos
satisfazer, um bem feitor. Esperar é escolher.
Partindo do pressuposto
de que esperar é escolher e que ninguém pode ser enganado se viver de esperas,
é preciso voltar para aquilo que fundamenta a nossa espera. Quando dizemos que ninguém
pode ser enganado se vive a espera, entende-se que essa espera seja
fundamentada em algo que tenha sentido. Ninguém consegue permanecer a vida
inteira numa ilusão. Nós sempre sabemos identificar aquilo que é verdadeiro e
aquilo que é falso, aquilo que vale a pena e aquilo que não chegará ou nos
levará a lugar algum, aquilo que é ilusão e aquilo que movimenta toda nossa
vida. Todavia, sempre permanecemos,
ousamos permanecer na superfície das coisas. Com isso, nem esperamos nem
escolhemos. Não nos iludamos em esperar daquilo que nós já sabemos que não sairá
nada. Não nos desesperemos com as realidades que nos chegam. Sejamos corajosos
e enfrentemos as frustrações que as nossas vontades nos forçam e nós não temos
coragem de ir contra nós mesmos.
Esperar é ser criativo, é
criar tudo, menos expectativa. A expectativa muito se assemelha a ilusão. A expectativa
é enganadora, mesmo quando eu percebo que as coisas não darão certo, mesmo
quando eu sei que a pessoa não é capaz, nem precisa cumprir aquilo que eu exijo,
eu continuo criando expectativas. Esperar é saber que aquilo que há de vir pode
não vir do jeito que eu quero, do jeito que eu penso, do modo que eu gostaria. Quando
eu crio expectativas eu quero que as coisas sejam exatamente como quero, se não
eu me frustro e não quero mais esperar, nem por nada nem por ninguém. O que eu
preciso criar então? A criatividade está para o ser humano como um rito de
passagem. Quando criamos alguma coisa, isso é sempre expressão daquilo que
acreditamos, quem queremos expressar mas que nem sempre tem nome, por isso
criamos, ou inventamos. Criar é sempre iniciar um processo de expressão. Esperar
é sempre um processo de fidelidade àquilo que acreditamos que virá, e
acreditamos porque sentimos.
Aquele que consegue
chegar à maturidade da espera consegue entender a razão de estar esperando. Neste
momento o que eu realmente espero é que você consiga fazer o que eu,
pessoalmente considero a ação fundamental que todo ser humano precisaria
aprender a fazer: esperar por si mesmo. Que você consiga esperar por você mesmo.
Eu espero que você não fuja de você;
Eu espero que você não se envergonhe
daquilo que você é, se tornou ou está se tornando;
Eu espero que você consiga encontrar o
ritmo que bate a corda do seu coração e acompanhe os seus sonhos esquecidos;
Eu espero que você lembre os sonhos que você
nem lembra mais, aqueles que você acabou deixando pelo caminho pelas descrenças
que te deram e você acreditou;
Eu espero que você não tenha medo de
falar sobre você mesmo;
Eu espero que você não tenha medo de
mostrar aos outros que você não está pronto e que continua procurando e se
encontrando, vagarosamente;
Eu espero que você se encontre, da mesma
forma que eu espero me encontrar;
Eu espero, um dia, te encontrar...
Ednaldo Oliveira, SDB
Lorena/SP, 17 de outubro de 2013.
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