Vê se fica bem, meu bem.
Acalma o coração, aquece a razão. Espelha a alma junto,
bem juntinho para que o perigo não nos tome o tempo,
não nos roube a espera de um retorno, não nos furte a perspectiva
da entrega ao momento que é nosso, é eterno, é único.
Vê se fica bem, meu bem.
Prenda-se ao farol norteador e assim não se perderá no caminho
que é de todos. Cultiva a seta para o além do aqui, para o além do agora,
e lá, onde não sabemos onde, mas sabemos da existência e da essência.
Insistimos em não ousar a experiência.
Vê se fica bem, meu bem.
Na inquietude das coisas vai encontrando teu lugar, teu cantinho;
na controvérsia do momento, põe-se na contramão do ser, na luta dos nervos,
vai ao ponto alto; na solidão desesperadora,
me encontra lá onde ninguém mais nos impedirá.
Vê se fica bem, meu bem.
Deves estar na confusão interrompida, longamente assistida pela partida;
não nos assustemos em contradizer tudo e perder a segurança das coisas
estabelecidas e falidas. Estaremos sempre presentes,
na sala inquieta dos filósofos e nos santuário dos místicos.
Vê se fica bem, meu bem.
Comprometamo-nos com o outro, daí partirá a nossa liberdade,
entreguemo-nos uns aos outros, daí surgirá nossa totalidade,
rejamos então a grande dança da vida e formemos um coro onde nada mais haverá
senão uma grande orquestra em dueto.
Vê se fica bem, meu bem.
Se for apenas um sonho, vivamos então por um sonho, se tudo parecer tolice e utopia,
ousemos permanecer na contramão de tudo e de todos,
e se nem nós mesmos acreditarmos mais em nós, sejamos pois,
do tamanho dos nossos sonhos. Saibamos para onde estamos indo.
Vê se fica bem, meu bem.
Quando tudo começar a dar errado e ninguém mais ficar ao nosso lado;
quando a perfeição nos for negada pela escolha que fizemos;
quando todas as portas forem lacradas e fechadas e a solidão e o frio chegarem,
vençamos pois a nós mesmos.
Vê se fica bem, meu bem.
E eu vou saindo de cena e esperando o seu convite chegar, e bater a portinha de minha alma, ansioso estou para que alcance este último espaço do meu ser,
e compartilharemos nossos passos e espaços,
caminhemos sob a luz dos nossos condenantes.
Vê se fica bem, meu bem.
Enquanto tudo isso vai caminhando para uma transformação dentro de uma confusão,
que nos ofusca o olhar e quase nos tira de cena por não esperar no que nos impõem,
que consigamos fazer a maior viajem existente e já feita,
da mente ao coração, para o nosso interior.
N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 13 de outubro de 2011.
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