terça-feira, 8 de novembro de 2011

Em uma madrugada fria de inverno

Em uma madrugada fria de inverno,
A alma foi levada ao vale esperado durante toda a vida.
Lá onde nada mais há se não a grande dúvida sobre tudo.

Em uma madrugada fria de inverno,
Quando ninguém mais estará ao teu lado e sentires o nada chegar.
A alma não terá mais onde encontrar desculpas ou recrutas.

Em uma madrugada fria de inverno,
ela conduzirá nossa alma pelos grandes pórticos e nos embelezará
com uma grande dança acompanhada pelas grandes páginas de nossa vida.

Em uma madrugada fria de inverno,
deparar-nos-emos com a grande estrutura do tudo e nos perguntaremos
não mais onde estamos, mas onde estávamos antes Dalí.

Em uma madrugada fria de inverno,
quando então entendermos tudo nos desesperaremos pela frustrante
notícia de que não mais nos encontraremos nem retornaremos.

Em uma madrugada fria de inverno,
escutaremos os gritos de lamúria e lamentação por nossa pressa
em ir embora ou a indiferença brusca dos nossos.

Em uma madrugada fria de inverno,
os nossos projetos serão todos cancelados, nossos quereres esquecidos
e nossos nomes riscados da grande página da vida.

Em uma madrugada fria de inverno,
não sentiremos nada mais que um vento frio e cinzento que
bruscamente nos conduzirá sem nem mesmo nossos nomes perguntar.

Em uma madrugada fria de inverno,
este mesmo frio espalhará tudo nosso ao vento que tratará
de não nos deixar com nada pela impossibilidade de carregá-los.

Em uma madrugada fria de inverno,
o grande girador parará bem em nossa frente e não mais seremos
ouvidos ou entendidos, apenas longamente conduzidos.

Em uma madrugada fria de inverno,
um grande silêncio perturbador nos ferirá sem erro e ninguém mais
nos escutará e por mais que gritemos nem mesmo nós nos ouviremos.

Em uma madrugada fria de inverno,
as nossas palavras ferirão nossos lábios antes  mesmo de serem
pronunciadas pelo preço por terem sido caladas ou espalhadas.

Em uma madrugada fria de inverno,
nós nos apresentaremos diante de nós mesmos e choraremos
nossas possibilidades ignoradas pela incredulidade do ser.

Em uma madrugada fria de inverno,
nossos olhos haverão de enxergar o lamentável, o impossível
o espetáculo contraditório da essência que chegou somente agora.

Em uma madrugada fria de inverno,
quando o grande trem ousar parar na estação suja e mal arrumada,
 nós não querermos largar o nosso confortável lugar na máquina.

Em uma madrugada fria de inverno,
largaremos tudo o que temos ou pensamos ter, choraremos nossas culpas
e a esperança frustrada de um retorno inesperável e impossível.

Em uma madrugada fria de inverno,
a despedida será inevitável, então ouviremos os gritos que deveriam
ser risos e até logo naquele momento descrente e real.

Em uma madrugada fria de inverno,
eu quero estar na presença dos meus, ali bem quietinho e quentinho
e cercado pelos que me viram terminar tudo o que vim para fazer.

Em uma madrugada fria de inverno,
eu quero já estar esperando com minhas bagagens na porta e
não haverá inseguranças, mas ansiedade em retornar logo para casa.

Em uma madrugada fria de inverno,
esperarei ver tudo aquilo em que acreditei e fundamentei minha vida,
encontrar-me-ei lá onde a razão da minha existência sempre me esperou.

Em uma madrugada fria de inverno,
quero ter apenas um desejo a passear pelo meu corpo já congelado pelo frio gritante:
que a morte não me encontre um dia, solitário, sem ter feito o que eu queria.

N. Ednaldo Oliveira, SDB.
Barbacena/MG, 26 de outubro de 2011.
"Em tributo ao eterno Ir. Lopes..."

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